Na semana passada, entraram em vigor as novas tarifas de importação que os Estados Unidos passaram a aplicar a dezenas de países com os quais mantêm relações comerciais. Os percentuais variam entre 10% e 50% – o valor mais alto será aplicado ao Brasil e à Índia – e o impacto econômico global no fluxo de comércio, inflação e rearranjo das cadeias produtivas ainda está para ser sentido.
A Fiesp calculou que a cobrança das tarifas irá resultar em uma redução de 0,2 p.p. no PIB brasileiro deste ano e de 0,38 p.p. no de 2026. Não fossem as quase 700 exceções à tarifa cheia, anunciadas posteriormente, o PIB de 2025 perderia 0,35 p.p. e o do ano que vem 0,60 p.p. A expectativa é que a economia brasileira cresça pouco mais de 2% neste ano.
O cenário mais detalhado – por setor e região – indica que é necessário um conjunto de medidas para mitigar os efeitos negativos das tarifas para empresas e trabalhadores. Linhas de crédito com juros mais acessíveis, devolução de créditos, postergação do pagamento de tributos, ampliação do prazo entre a contratação e a liquidação de contratos de câmbio, além de adoção de programas de sustentação do emprego, como na pandemia, são algumas medidas urgentes. E, claro, seguir negociando com os Estados Unidos.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) fez um raio-x de como ficam as exportações brasileiras para os Estados Unidos, principal destino das vendas da indústria de transformação nacional, levando-se em conta todo tipo de tarifa.
Estão sujeitas a alguma taxação adicional 77,8% da pauta exportadora brasileira. Estão sendo consideradas as ordens executivas que estabeleceram as tarifas de 10%, de 40% e a Seção 232 do Trade Expansion Act, de 25% e 50%, aplicadas exclusivamente a produtos de aço, alumínio, cobre, veículos e autopeças. Mais da metade das exportações terão sobretaxas de 50%.
Principal setor exportador para os Estados Unidos, a indústria de transformação terá 7.184 produtos afetados pelas tarifas combinadas de 50%. Em 2024, essas vendas somaram US$ 12,3 bilhões.
Os segmentos com maior número de produtos exportados atingidos pela sobretaxa combinada seriam: Vestuário e acessórios (14,6%), Máquinas e equipamentos (11,2%), Produtos têxteis (10,4%), Alimentos (9%), Químicos (8,7%) e Couro e calçados (5,7%).
Outro levantamento da CNI, com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), mapeou os impactos regionais – e São Paulo está entre os estados mais afetados. Os EUA representaram 44,9% das exportações do Ceará, seguido por Espírito Santo (28,6%), Paraíba (21,6%), São Paulo (19%) e Sergipe (17,1%). Vale frisar que 92,1% do que São Paulo vendeu aos Estados Unidos vieram da indústria de transformação.
Jundiaí, que exporta para os EUA máquinas e aparelhos elétricos, de gravação ou reprodução de som e imagens, suas partes e acessórios, estaria entre as dez cidades paulistas mais atingidas, segundo levantamento, por município, feito pelo jornal O Estado de São Paulo. A análise leva em conta os 30 produtos mais vendidos para os EUA, a partir de dados do MDIC. O impacto para Jundiaí é estimado em US$ 187,1 milhões, valor total exportado para os Estados Unidos no ano passado.
Pela ordem, as cidades paulistas mais afetadas seriam: Piracicaba (US$ 1,3 bilhão), Matão (US$ 519,7 milhões) – os dois municípios mais impactados do país –, São Paulo (US$ 350,9 milhões), Colina (US$ 350,9 milhões), Guarulhos (US$ 308,8 milhões), Pederneiras (US$ 249 milhões), Araraquara (US$ 249 milhões), Suzano (US$ 194,6 milhões), Jundiaí e Lins (US$ 182,3 milhões).
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do Ciesp e 1º diretor-secretário da Fiesp (vfjunior@terra.com.br)