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Confira a opinião do vice-presidente do CIESP, Vandermir Francesconi Júnior.

Vivemos um período de transformações profundas e aceleradas. A ordem internacional, até há pouco relativamente estável, encontra-se em fragmentação. A ascensão da China, o reposicionamento da Europa e a tentativa dos Estados Unidos de reafirmar seu protagonismo global produzem um cenário em que rivalidades se intensificam, instituições multilaterais perdem capacidade de mediação, e o direito internacional é frequentemente tensionado. O Brasil, diante desse ambiente, precisa avaliar com clareza como preservar sua autonomia estratégica e projetar seus interesses.

As tensões geopolíticas revelam de forma dramática os riscos que enfrentamos. A guerra entre Rússia e Ucrânia mostra como disputas por territórios e recursos podem desestabilizar cadeias de abastecimento, aumentar a volatilidade energética e a insegurança alimentar global. Ao mesmo tempo, a corrida armamentista em curso reforça a percepção de que entramos em uma era de maior instabilidade. O Brasil, tradicional defensor da paz e do diálogo, deve continuar a exercer papel de mediador, mas sem negligenciar a necessidade de proteger suas fronteiras, seu espaço marítimo e sua infraestrutura digital.

No campo econômico, o recrudescimento do protecionismo, exemplificado pelas novas tarifas dos Estados Unidos contra diversos países, soma-se à disputa comercial com a China e contribui para a desorganização das cadeias globais de valor. Essa conjuntura representa riscos para setores estratégicos da nossa economia, mas também abre oportunidades. O Brasil, como fornecedor confiável de alimentos, energia e minerais críticos, pode diversificar mercados, aprofundar parcerias com América Latina, África e Ásia, se tornando mais resiliente às conturbações do cenário internacional.

Outro fator decisivo é a crise climática. Eventos extremos já impactam sociedades e economias em escala crescente. Nesse contexto, o Brasil tem vantagens que poucos países possuem: uma matriz energética limpa, a biodiversidade mais rica do planeta e, ao mesmo tempo, novas fronteiras de exploração energética, como o pré-sal. Se conseguirmos alinhar responsabilidade ambiental com inovação em bioeconomia e transição energética, poderemos transformar a sustentabilidade em ativo econômico e diplomático, projetando-nos como potência verde.

Não podemos, contudo, ignorar a crescente disputa por recursos estratégicos e pela supremacia tecnológica. A corrida por terras-raras, semicondutores, inteligência artificial e cibersegurança redefine o poder global. O Brasil, com sua imensa reserva de água doce, biodiversidade e minerais, deve assegurar o uso sustentável desses recursos e, sobretudo, investir em ciência, tecnologia e inovação para reduzir dependências externas e preservar nossa soberania a longo prazo.

Diante desse cenário, cabe ao Brasil adotar algumas diretrizes claras: preservar sua autonomia estratégica em um mundo polarizado; reforçar sua capacidade de defesa e proteção digital; diversificar seus parceiros comerciais; assumir papel de liderança na agenda climática e ambiental; e investir decisivamente em inovação tecnológica.

O mundo vive um tempo de incertezas, mas também de oportunidades. E a tradição da diplomacia brasileira nos mostra o caminho: não escalar conflitos, mas sempre priorizar a boa negociação, conduzida com firmeza e pragmatismo, para assegurar os interesses nacionais e abrir novas possibilidades de cooperação, garantindo nossa soberania e competitividade no futuro.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP. Texto foi publicado, originalmente, no Jornal de Jundiaí, edição de 16 de setembro.