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17 elementos químicos fundamentais para a produção de tecnologias estratégicas

As chamadas terras raras tornaram-se o centro de uma das disputas geopolíticas mais importantes do momento. Trata-se de 17 elementos químicos (como praseodímio, neodímio, lantânio, cério e ítrio) fundamentais para a produção de tecnologias estratégicas, consideradas vitais para o futuro — como turbinas eólicas, motores de veículos elétricos, painéis solares, baterias, lâmpadas de LED, celulares, chips, equipamentos médicos e sistemas de defesa, entre outras aplicações.

Embora o nome possa sugerir escassez, esses minerais não são necessariamente raros na crosta terrestre. O desafio está na grande dificuldade e no alto custo de sua extração, refino e processamento — atividades que exigem tecnologia altamente especializada. Para se ter uma ideia, de cada tonelada de minério retirada, apenas cerca de 1 kg corresponde a terras raras.

Atualmente, o domínio sobre esses elementos define, em grande medida, quem controla as cadeias produtivas de setores de ponta — e, portanto, quem detém vantagem na transição energética e tecnológica global. É nesse ponto que a disputa entre as duas maiores potências mundiais, China e Estados Unidos, se intensifica.

Ao longo de décadas, a China construiu uma posição hegemônica nesse mercado. O país concentra cerca de 40% das reservas conhecidas e responde por mais de 70% da produção mundial, além de controlar praticamente todo o refino e a fabricação de ligas e ímãs que utilizam esses minerais. Em outras palavras, mesmo quando o minério é extraído em outro país, ele frequentemente precisa passar por processamento em território chinês antes de ser usado pela indústria.

Essa supremacia permitiu a Pequim usar as terras raras como instrumento político e econômico. Em 2025, o governo chinês impôs restrições à exportação de sete tipos desses minerais e incluiu empresas norte-americanas em uma lista de “entidades não confiáveis”. A medida foi vista como uma resposta às sanções e tarifas impostas pelo governo Trump e afetou diretamente setores estratégicos — como o automotivo e o de defesa — que dependem fortemente dos insumos chineses. O episódio reacendeu temores sobre a vulnerabilidade das cadeias produtivas ocidentais e levou os Estados Unidos a ampliar a busca por alternativas.

Os EUA tentam diversificar suas fontes de fornecimento, reativar minas domésticas e incentivar parcerias com países que possuam reservas, como Austrália, Canadá e Brasil. Ainda assim, especialistas apontam que reconstruir uma cadeia completa — da extração ao refino e à fabricação de produtos de alto valor agregado — é um processo caro e demorado, que pode levar anos. A dependência da China, portanto, permanece alta, enquanto o país asiático continua a usar sua vantagem como carta estratégica em disputas comerciais.

Nesse cenário, o Brasil surge como peça importante no tabuleiro global. O país detém a segunda maior reserva de terras raras do mundo, com cerca de 19% a 23% das estimativas conhecidas, localizadas principalmente em Minas Gerais, Goiás e Amazonas.

Essa vantagem, porém, ainda não se traduziu em protagonismo. Hoje, o Brasil responde por menos de 0,05% da produção mundial e ainda carece de infraestrutura tecnológica, política industrial e marco regulatório específicos para transformar o minério em produtos de alto valor agregado.

Mesmo assim, o potencial brasileiro é significativo e coloca o país como player relevante no novo xadrez geopolítico mundial, evidenciando a necessidade de avançar com mais rapidez nesse campo estratégico.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP