OPINIÃO - O desafio dos carros elétricos para a indústria - CIESP Jundiai

OPINIÃO – O desafio dos carros elétricos para a indústria

Vandermir Francesconi Júnior

Não há dúvidas de que os carros elétricos – ou híbridos – são o futuro do segmento automotivo, dado que o mundo caminha na direção de uma matriz de transporte mais limpa e sustentável. Na União Europeia, por exemplo, o motor a combustão já está com os dias contados. No mês passado, o bloco anunciou seu cronograma para que automóveis e comerciais leves (furgões e picapes) tenham emissão nula de gás carbônico.Até 2030, a emissão deverá diminuir 50% e terá de ser zerada até 2035, conforme determinação do Parlamento Europeu.

Como se vê, quem quiser ser um player neste mercado tem de estar atento aos prazos. E o Brasil, que conta com uma relevante indústria automotiva atualmente, precisa se apressar para definir uma política industrial para este segmento. Se nada for feito, nossa indústria ficará obsoleta e perderemos inúmeras oportunidades.

O dinamismo do mercado global de carros elétricos e híbridos é evidente. Segundo dados da Agência Internacional de Energia, as vendas decolaram nos últimos três anos.Em 2019, foram vendidas 2,2 milhões de veículos eletrificados, com 2,5% de participação do mercado.

Em 2020, apesar da pandemia que encolheu o setor automotivo, o número de automóveis elétricos e híbridos comercializados subiu para 3 milhões, alcançando um share de 4,1% do mercado. E, em 2021, foram 6,6 milhões de unidades vendidas, o que já representa 9% do mercado global.

Mesmo no Brasil, este segmento vem ganhando tração. No primeiro semestre deste ano, foram emplacados 20.427 veículos leves eletrificados (100% a bateria e híbridos leves), sendo que 4.073 só em junho. O mercado de eletrificados cresceu 47% no período em comparação com o primeiro semestre do ano passado, mas ainda é um nicho com 2% das vendas totais. A frota de eletrificados no país alcançou neste mês 100 mil unidades.

Embora seja um caminho sem volta, os carros eletrificados ainda precisam superar alguns desafios, sobretudo no Brasil, como custos, autonomia e infraestrutura para recarregamento das baterias. Aqui, o alto valor desses automóveis espanta os consumidores. Os modelos mais baratos partem de R$ 145 mil enquanto os equipados com motores a combustão começam em R$ 63 mil.

A infraestrutura de recarga pública e semipública é pequena, mas vem crescendo. Atualmente, existe em torno de 1.500 eletropostos nas principais cidades e rodovias do país. Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (Abev), a expectativa é de ter 3 mil até o final do ano e 10 mil em três anos. Há inúmeras iniciativas privadas para multiplicar rapidamente os postos de recarga. Volvo, Audi e Porsche, por exemplo, estão criando sua própria rede.

A oferta de veículos eletrificados também está aumentando no Brasil.Até dezembro, cerca de 100 modelos diferentes deverão estar à disposição dos consumidores. A expectativa é que, em três anos, o mercado de carros de luxo – que já são caros mesmo e, portanto, fica mais fácil administrar o custo adicional – seja dominado pelos elétricos e híbridos.

Ainda que os carros eletrificados levem tempo para se tornarem realidade para a maioria dos brasileiros, a indústria nacional terá de produzi-los para continuar exportando automóveis, uma vez que eles dominarão o mercado. Por isso, sob pena de perdermos terreno por estarmos presos ao século XX, é imperativo conceber uma política industrial para este segmento.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP e, atualmente, responde, interinamente, pela Presidência do CIESP. O artigo foi publicado, originalmente, no Jornal de Jundiaí, em 26/7