OPINIÃO – Educação: pandemia levou à maior crise da história
- Atualizado emA interrupção global da educação regular por conta da pandemia, com o fechamento das escolas que impactou 1,6 bilhão de crianças e adolescentes, e a introdução de aulas remotas (ou híbridas),constitui-se na pior crise educacional da história. Esta afirmação tão grave quanto peremptória é do Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a Infância. Um detalhado estudo mundial produzido por eles indica perdas substanciais em leitura e matemática tanto em países de renda alta, quando de média e baixa, mas afetando significativamente os mais vulneráveis.
Para o Unicef, um longo trabalho de recuperação do aprendizado, e também da saúde mental de crianças e adolescentes, terá de ser feito nos próximos anos. Esta deveria ser a prioridade do Brasil, afinal estamos falando do nosso futuro. Não podemos nos conformar em ter uma geração perdida, que não poderá realizar todo o seu potencial.
A indústria paulista, por intermédio do Sesi-SP, está pronta para exercer seu papel social e dar as mãos aos municípios e ao estado de São Paulo para apoiar a rede pública na superação deste imenso desafio em um novo projeto que está prestes a sair do forno e sobre o qual falaremos em breve.
Alguns dados mundiais: em países de baixa e média renda, as perdas de aprendizado em função do fechamento de escolas deixaram até 70% das crianças de 10 anos incapazes de ler ou entender um texto simples, em comparação com 53% antes da pandemia. Mesmo nos EUA, a locomotiva econômica do mundo, houve perdas importantes. No Texas, por exemplo, dois terços das crianças do 3º ano tiveram notas nos testes de matemática abaixo do nível da série em 2021.Em 2019, este fato foi observado com metade das crianças texanas.Na África do Sul, entre 400 mil e 500 mil estudantes abandonaram a escola no período entre março de 2020 e julho de 2021.
No Brasil, a situação também é bem delicada. Segundo dados compilados pelo Unicef, em vários estados brasileiros, três em cada quatro crianças do 2º ano do Ensino Fundamental(EF) estão fora dos padrões de leitura. Antes da pandemia, metade estava fora do padrão. Mesmo em São Paulo, o estado mais rico do Brasil, os dados mostram perdas de aprendizado significativas, conforme apurado pelo Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) cujas provas são aplicadas no ensino público. Todos os ciclos apresentaram queda em comparação à última avaliação, em 2019.
Em matemática, o aluno do 5º ano do EF, por exemplo, está com a mesma proficiência esperada de um estudante do 2º ano. Já o adolescente da terceira série do Ensino Médio (EM) saiu da escola com defasagem de quase seis anos de aprendizado em matemática. O resultado não foi muito diferente em língua portuguesa: o aluno do 5º ano do EF está com a mesma proficiência de um estudante do 3º ano do EF. E o jovem que concluiu o EM tinha a proficiência em português adequada ao estudante do 8º ano do EF. Uma verdadeira tragédia.
Mesmo nas escolas particulares, que são muito melhor estruturadas e puderam garantir o ensino remoto, houve perdas e será necessário um trabalho especial de recuperação. Mas é na rede pública, onde estão matriculados 80% dos brasileiros, que o quadro é extremamente desafiador. Isso exigirá do poder público, e também da sociedade, esforço inédito para apoiar nossas crianças e adolescentes nas perdas de aprendizado, emocionais e até nutricionais.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP