OPINIÃO – A lenta recuperação da indústria
- Atualizado emVandermir Francesconi Júnior *
As pesquisas Sensor e Levantamento de Conjuntura divulgadas por Fiesp/Ciesp na semana passada indicam que a indústria paulista ainda passa por um momento delicado. O Sensor, referente a março, registrou 48,5 pontos — já com ajuste sazonal -, resultado inferior ao de fevereiro (50,2 pontos). Números abaixo de 50 pontos indicam retração da atividade industrial no mês. O dado de investimentos foi o principal fator a contribuir para a piora do Sensor, com redução de 51,5 pontos para 48,6 pontos, indicando que as indústrias paulistas devem investir menos no mês.
Já o Levantamento de Conjuntura mostra que, no primeiro bimestre, as vendas reais da indústria paulista registraram redução de 11,3% na comparação com janeiro e fevereiro do ano passado. Vale destacar as quedas das horas trabalhadas na produção (-2,1%) e dos salários reais médios (-1,1%) no mesmo período. As vendas do setor estão 4,2% abaixo do momento pré-pandemia (fevereiro de 2020).
Infelizmente, para os próximos meses, não é esperada uma expressiva recuperação da atividade industrial paulista. Os estímulos fiscais do governo, como antecipação do pagamento do 13º salário de aposentados e pensionistas e o saque de R$ 1.000 do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), são elementos positivos para ajudar a retomada. Mas do outro lado da balança há os juros elevados e a guerra na Ucrânia que, além de pressionar os custos de produção, atrasa a normalização das cadeias de suprimentos.
Aliás, este é um dos maiores desafios dos industriais, não só no Brasil, mas no mundo. Além de desorganizar as cadeias globais de produção, a pandemia resultou em grande reajuste de preços dos insumos. Alumínio e cobre, por exemplo, tiveram forte aumento, assim como os aços(plano e longo) cujos preços mais que dobraram nesses dois anos.
Pesquisa da Fiesp/Ciesp com indústrias paulistas no mês passado dimensiona este fenômeno: 43% das empresas ouvidas declararam que o conflito provocou reajuste de preços em março e a expectativa para 33% é que este quadro se repita em abril.
Da mesma forma, a guerra também teve efeito sobre a oferta de matérias-primas. Dos entrevistados, 26% relataram dificuldades para adquirir os insumos em março e 3,1% não conseguiram encontrá-los. Para abril, a expectativa é pior: 33,6% afirmam que terão dificuldade para acessar as matérias-primas e 3,1% acreditam que não conseguiram comprá-las.
Neste sentido, a situação dos semicondutores, que já enfrentavam significativa escassez global, é muito preocupante. Com o conflito, a produção do neônio (principal insumo dos chips) na Ucrânia foi interrompida em duas fábricas que respondem por nada menos que metade da produção mundial desta matéria-prima. Os semicondutores estão presentes em todos os produtos eletrônicos da atualidade.
Este momento de incerteza se reflete na confiança do empresariado. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostrou que, dos 29 setores pesquisados, a confiança caiu em 22 no mês de março.
Nos próximos meses, a conjuntura seguirá desafiadora, impactada pela guerra neste primeiro semestre e à natural volatilidade que as eleições gerais de outubro trazem para a economia brasileira. Teremos de navegar por mares revoltos, manejando com habilidade o timão.
VANDERMIR FRANCESCONI JÚNIOR é 2º Vice-Presidente do CIESP