OPINIÃO – COP 27: como avançar a agenda do clima
- Atualizado emVandermir Francesconi Júnior*
“Estamos na luta de nossas vidas e estamos perdendo. As emissões de gases de efeito estufa continuam crescendo. As temperaturas globais continuam subindo. E nosso planeta está se aproximando rapidamente de pontos de inflexão que tornarão o caos climático irreversível. Estamos em uma estrada no caminho para o inferno climático com o pé no acelerador”. O alerta dramático foi feito pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, no início da COP-27, a cúpula da ONU para mudanças climáticas que ocorre no Egito.
Relatório recente da ONU indica que as promessas em relação ao clima feitas pelos países são insuficientes para evitar as consequências danosas das mudanças climáticas. Com isso, não está descartado o cenário de um aquecimento de até 2,5 graus Celsius até o final deste século, em relação aos níveis pré-industriais. Cada um dos últimos oito anos foi mais quente do que todos os registros conhecidos até agora, de acordo com um relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Este patamar está bem acima do definido pelo Acordo de Paris, assinado em 2015 por 196 países. Entre outros compromissos, o texto acordado estabelece que a temperatura do mundo não pode subir mais de 1,5 grau Celsius (ou no máximo 2 graus), até o fim do século. Porém, o ritmo atual de redução das emissões de gases de efeito estufa dos países não está nem perto do necessário para atingir esta meta, segundo a ONU – as emissões teriam de cair 45% até 2030 para este objetivo ser alcançado. Desde a revolução industrial, o planeta já aqueceu 1,1 grau Celsius.
Nesta toada, os eventos climáticos extremos estão cada vez mais comuns. O Paquistão, por exemplo, teve recentemente um terço de seu território inundado, com mais de mil mortos, 33 milhões de pessoas afetadas e danos estimados em US$ 10 bilhões.
A Europa, por sua vez, viveu, neste verão, sua pior seca em 500 anos, com dois terços do continente em estado de alerta. Países do Nordeste da África, como o Quênia, têm vivido estiagens extremas, deixando populações à beira da fome. Na China, uma onda de calor recorde provocou racionamento de energia e fechamento de indústrias. Além disso, com o derretimento de glaciares e elevação do nível do mar, ilhas no Oceano Índico, como Samoa e Tuvalu correm o risco de desaparecer.
Diante deste cenário, esses países que pouco contribuíram para as mudanças climáticas têm cobrado das nações desenvolvidas, historicamente as maiores emissoras, compensações financeiras para reparar as “injustiças climáticas” e lidar com a situação.
Os países ricos já deveriam estar contribuindo com US$ 100 bilhões, (entre 2020 e 2025) por ano, para auxiliar as nações em desenvolvimento a mitigarem e se adaptarem aos impactos das mudanças climáticas, seja fornecendo aos agricultores plantações resistentes à seca, seja pagando por melhores defesas contra inundações, por exemplo. Mas esta cifra ainda não foi atingida.
Além disso, os países em desenvolvimento precisam de financiamento adicional para impulsionar a descarbonização das suas economias. Relatório encomendado pela presidência da Conferência do Clima calcula que esses países precisarão de mais de US$ 2 trilhões por ano, até 2030, para bancar a transição para uma economia de baixo carbono. Desatar os nós financeiros é fundamental para a agenda do clima avançar.
Vandemir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do Ciesp e 1º diretor secretário da Fiesp (vfjunior@terra.com.br)