OPINIÃO – Por que adotar princípios ESG nos negócios
- Atualizado emMais do que um modismo, a adoção dos pilares ESG – sigla em inglês para boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa – se tornou indispensável no ambiente empresarial. No contexto atual, já não é mais uma opção do dono ou da liderança aderir ao tripé, esta linha de atuação tem de estar na estratégia de negócios da empresa, pois essas práticas passaram a ser consideradas essenciais nas análises de riscos e nas decisões de investimentos.
Os números são eloquentes. Segundo a Bloomberg, o montante mundial ligado a ativos ESG deve alcançar US$ 53 trilhões em 2025, ou um terço do total. Era de US$ 38 trilhões em 2020 e deve ultrapassar US$ 41 trilhões este ano.
Relatório da PwC aponta que, até 2025, 57% dos ativos de fundos mútuos na Europa estarão em fundos que consideram os fatores ESG, o que representa US$ 8,9 trilhões. Dos investidores institucionais pesquisados pela PwC, 77% disseram que planejam parar de comprar produtos que não estejam em conformidade com essas práticas a curto prazo.
O termo ESG surgiu em 2004 em uma publicação do Pacto Global, da Organização das Nações Unidas (ONU), em parceria com o Banco Mundial, chamada Who CaresWins (Quem se Importa Vence, em tradução livre).
Na ocasião, o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, desafiou 50 CEOs de grandes instituições financeiras a encontrar mecanismos para integrar fatores sociais, ambientais e de governança ao mercado de capitais. Sob a liderança da ONU, em 2006,foram lançados os Princípios de Investimento Responsável, que já têm mais de 4 mil signatários com ativos ultrapassam US$ 121 trilhões.
Mas o que é ESG, na prática, para uma empresa?
Resumidamente, podemos dizer que os fatores ESG contemplam o seguinte, entre outras medidas: 1) Ambiental: eficiência energética, uso racional da água, gestão de resíduos sólidos, economia circular; 2) Social: direitos trabalhistas, direitos humanos, diversidade, equidade de gênero; 3) Governança: ética e transparência, política anticorrupção, independência do Conselho de Administração.
Além de implementar as ações relacionadas para cada aspecto, as empresas deverão estabelecer métricas e indicadores que possam ser rastreados, bem como sistemas de controle para permitir a elaboração de relatórios padronizados, em uma ampla gama de questões que envolvem desde inventários de emissões atmosféricas, práticas trabalhistas até privacidade de dados e ética empresarial. As métricas e indicadores devem ser reportados periodicamente.
É compreensível que algumas empresas ainda tenham a preocupação de que a agenda ESG seja um custo ou uma restrição, mas deve-se encará-la com outros olhos. Na verdade, é uma oportunidade para novos produtos, novas tecnologias, novos mercados, novo posicionamento de marca, enfim, uma oportunidade de se diferenciar e estar alinhado a valores cada vez mais importantes para os consumidores.
Ainda que a empresa necessite empregar recursos para adotar os princípios ESG, é preciso analisar cuidadosamente se isso é custo ou investimento. Se for uma tendência, não é custo, é investimento – que pode ter rápido retorno, pois pode implicar redução de custos, como por exemplo, a diminuição do consumo de energia ou de água.
Atualmente, os stakeholders, ou seja, todos que de alguma forma se relacionam com a empresa, estão mais atentos e cobrando melhor desempenho socioambiental e governança- sem esquecer, claro, dos bons resultados financeiros. Precisamos ter em mente que, hoje, propósito e lucro andam juntos.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP. O texto foi publicado, originalmente, no Jornal de Jundiaí, edição de 05/07/22.