OPINIÃO – Os caminhos para gerar empregos
- Atualizado emA pandemia desorganizou a economia mundial. Os exemplos são muitos: montadoras de automóveis têm concedido férias coletivas a seus funcionários porque faltam insumos para os carros; a inflação vem subindo fortemente, inclusive nos países desenvolvidos e os preços das commodities, sejam agrícolas, sejam minerais, estão nas alturas por conta da grande demanda.
O mercado de trabalho também foi afetado pela crise da covid-19. O fechamento das atividades econômicas resultou em demissões e os autônomos perderam suas fontes de renda. Isoladas em casa, as pessoas desistiram de procurar emprego e quem pôde se apoiou no auxílio emergencial. Com o paulatino retorno à normalidade, o mercado de trabalho tem se mostrado desafiador. São 14,1 milhões de desocupados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que equivale a uma taxa de desemprego de 13,7%.
Atualmente, a População Economicamente Ativa (PEA) soma 102,2 milhões de pessoas. É o contingente que trabalha, seja no mercado formal ou informal, ou procura emprego. Entre os 87,8 milhões que têm alguma ocupação, 50 milhões são formais e 37,8, informais.
Neste ano, a despeito da forte segunda onda da pandemia que se abateu sobre o país, o Brasil conseguiu gerar 2,2 milhões vagas formais até agosto (último dado disponível). São oito meses consecutivos de crescimento, o que mostra a resiliência da economia e a capacidade de adaptação dos empresários, que aprenderam a tocar seus negócios em um ambiente adverso.
Ainda assim, existem 3,8 milhões de pessoas que estavam ocupadas antes da pandemia e que ainda estão fora da força de trabalho, isto é, não estão trabalhando nem procurando uma vaga. Por isso, a taxa de desemprego tende a se manter pressionada uma vez que, com a reabertura, todos os que deixaram de ir atrás de uma vaga em 2020 deverão, em algum momento, retomar a busca.
Outra consequência deste mercado de trabalho desafiador é a queda do rendimento médio da população, que vem sendo reduzido. O patamar mais recente é de R$ 2.515,00 mensal em média. Além disso, há o impacto negativo da alta da inflação que no momento beira os 10% ao ano, tirando o poder de compra das famílias.
Esta situação só será revertida de fato com crescimento da economia, o melhor antídoto contra o desemprego. E isso passa pela construção de um ambiente econômico mais favorável ao investimento, ao crescimento das empresas e, consequentemente, com geração de mais postos de trabalho.
Neste sentido, avançar com boas reformas estruturais e reduzir o Custo Brasil é o caminho. No momento, estamos perdendo de goleada, como mostra um estudo do Boston Consulting Group, que compara o custo de produzir no Brasil com o custo de produzir o mesmo bem em países concorrentes e membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
No levantamento, foram considerados doze itens, entre tributos, a facilidade de abrir e fechar empresas, apoio do governo, entre outros. A conclusão é que produzir no Brasil custa R$ 1,5 trilhão a mais por ano do que em outros países. Não há como desenvolver um setor privado pujante nessas circunstâncias.
Paralelamente, temos de garantir que os três milhões de jovens que entram anualmente no mercado de trabalho estejam preparados para atender a demanda das empresas. O Brasil precisa de políticas para a formação de mão de obra, como fazemos no Senai-SP.
Com a Quarta Revolução Industrial, esta agenda se torna ainda mais urgente. A educação profissional tem de acompanhar a evolução tecnológica. Precisamos capacitar os trabalhadores, formar empreendedores, qualificar e requalificar novos quadros para novas tecnologias dentro da indústria 4.0.
O Senai-SP é um exemplo a ser seguido. A entidade se mantém atualizada e sintonizada com as necessidades do mercado e respeita a vocação econômica de cada região do estado, o que aumenta a empregabilidade de seus alunos. Por meio de 92 escolas fixas e 78 móveis, efetiva um milhão de matrículas por ano, formando profissionais em 28 áreas da indústria, desde a iniciação até a pós-graduação tecnológica.
Mais do que discussões estéreis, o Brasil precisa de geração de empregos, o que passa necessariamente por esses dois eixos, do crescimento econômico e da qualificação da mão de obra. Não há tempo a perder.
VANDERMIR FRANCESCONI JÚNIOR é 1º diretor-secretário da Fiesp e do Ciesp