OPINIÃO – Jovens precisam de oportunidade
- Atualizado emO Brasil tem 10,9 milhões de jovens entre 15 e 29 anos que não estudavam nem trabalhavam em 2022 – 22,3% do contingente desta faixa etária. Esta é a dimensão da chamada geração “nem nem”, segundo o levantamento Síntese de Indicadores Sociais, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, um a cada cinco brasileiros entre 15 e 29 anos é um “nem nem”. Trata-se de um retrato alarmante da nossa juventude.
Ao examinar os detalhes da estratificação da pesquisa, é possível ter um perfil claro de quem está na condição de maior vulnerabilidade. Dos 10,9 milhões de “nem nem”, 6,7 milhões são pobres e quase metade (48%) são mulheres pretas e pardas. Segundo a pesquisa, 4,7 milhões de jovens não procuravam emprego nem gostariam de trabalhar.
Esses dados revelam o estado da desigualdade existente no país hoje e, mais grave, não trazem bons presságios para o futuro. Afinal, esses jovens não estão se qualificando, seja no ensino regular ou técnico, nem ganhando experiência de trabalho, o que pode prejudicar suas possibilidades ocupacionais no futuro.
Segundo o IBGE, os motivos que levam esses 4,7 milhões de jovens a não terem a iniciativa de buscar trabalho são diferentes para eles e elas. Para a maioria das mulheres, a principal causa são os afazeres domésticos e o cuidado com parentes. Para boa parte dos homens, problemas de saúde despontam como razão.
Este trabalho invisível feminino começa cedo e, por vezes, segue ao longo de toda vida, alijando as mulheres do mercado de trabalho. Conforme pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas sobre a “economia do cuidado” (tarefas domésticas e de esforços com dependentes, como crianças, idosos, doentes ou pessoas com deficiência), esses afazeres ficam por conta da mulher em 65% dos casos. Se fosse computada aos indicadores econômicos, a “economia do cuidado” acrescentaria 8,5% ao Produto Interno Bruto (PIB).
Além disso, a gravidez na adolescência é outro fator que impacta as jovens, afastando-as, inclusive, das escolas. Embora os índices de gestações nessa faixa etária venham caindo, 1.043 adolescentes se tornam mães no Brasil por dia, segundo informações do Sistema Único de Saúde (SUS). Outro ponto de alerta é o percentual elevado na recorrência de gravidez no primeiro ano pós-parto. Isso ocorre em 32% dos casos.
O fenômeno dos “nem nem” não se restringe ao Brasil, mas desde que esse levantamento começou a ser feito, há três décadas, o país convive com elevado percentual de jovens que não estudam nem trabalham. Em um ranking global da Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), entre 37 países analisados, o Brasil é o segundo com maior contingente de “nem nem”, atrás apenas da África do Sul.
Há que se criar políticas públicas para inserir, de fato, esses jovens no mercado de trabalho e motivar quem não concluiu o ensino básico a finalizar os estudos.
Realizando sua função social, o Sesi-SP lança agora a Nova Educação de Jovens Adultos (EJA), que será 80% no formato online e 20% presencial, em 50 unidades escolares. É gratuita e destinada a quem deseja concluir os anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) e o Ensino Médio (1ª a 3ª série). Há também a EJA Profissionalizante para quem quer tirar junto uma certificação profissional no Senai-SP. São oito cursos diferentes, entre eles, Assistente de RH, Operador de Computador e Desenhista de moda.
O jovem brasileiro precisa de oportunidades para crescer e se desenvolver. Disso depende o futuro do país.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP