OPINIÃO – A importância do Censo
- Atualizado emA coleta domiciliar de dados do Censo Demográfico de 2022 está começando. Com dois anos de atraso em função da pandemia de Covid-19, finalmente o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) está indo a campo para descobrir quem somos, quantos somos, como vivemos. Em outras palavras, as condições de saúde, educação, trabalho e moradia da população.
Para ter um retrato detalhado do Brasil de 2022, cada casa dos 5.570 municípios brasileiros será visitada por um recenseador. Dadas as dimensões continentais do nosso país, trata-se de uma verdadeira operação de guerra, com áreas de difícil acesso – seja porque é um vilarejo no interior do Amazonas onde só se chega de barco, seja porque é uma ruela de uma favela dominada pelo tráfico em alguma metrópole.
Este Brasil de contrastes e muito diverso será revelado quando os dados tabulados vierem a público, em dois ou três anos. É preciso frisar: este trabalho é fundamental, pois é com base nessas informações que políticas públicas assertivas e prioritárias podem ser traçadas, planejadas e implementadas, algo tão necessário neste país.
Além disso, é com base no censo populacional que o Tribunal de Contas da União (TCU) calcula os percentuais que cada cidade terá do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), ou seja, o quinhão de cada um da arrecadação do Imposto de Renda (IR) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Para as cidades que não são capitais, o repasse do FPM leva em conta o tamanho da população de cada município. Como último censo foi em 2010, mesmo com as estimativas de população anuais feitas pelo IBGE, há prefeitos que acreditam que o número de habitantes de seus municípios é maior do que o calculado pelo TCU, órgão encarregado de classificar e definir quanto esses municípios receberão. Essas possíveis distorções levam, inclusive, a ações judiciais.
O Censo também serve de bússola para setor privado, ao embasar a tomada de decisões de investimentos, uma vez que fornece informações preciosas sobre mercado consumidor, poder de compra,localização do público alvo, etc. Além de subsidiar inúmeros estudos e pesquisas científicas das áreas sociais, econômicas e educacionais que iluminam os caminhos pelos quais devemos seguir.
Na verdade, parte desse trabalho de desbravar o Brasil começou antes. Em junho, foram a campo 22 mil supervisores censitários para a coleta da Pesquisa Urbanística do Entorno dos Domicílios. Eles visitaram cada rua, de cada município, analisando a capacidade da via, iluminação, existência de calçada, entre outros itens. São informações da infraestrutura urbana relevantes para a administração pública – além de permitir a atualização dos mapas e identificação de vias.
O Brasil conta sua população há 150 anos. A primeira contagem ocorreu em 1872, ainda durante o Império. A partir de 1890, já na República, os censos se tornaram decenais. Como curiosidade, vale destacar o pioneirismo do Brasil. Foi primeiro país a incluir o tema fecundidade em seus questionários e o único da América Latina a levantar informações sobre renda.
Felizmente, mantivemos a boa tradição de realizar censos regularmente, com alguns poucos adiamentos, o que nos permitiu mostrar a evolução do país ao longo dos anos. Agora, chegou a hora de nos olharmos no espelho novamente.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP. O artigo foi publicado, originalmente, no Jornal de Jundiaí, edição de 2/08/22.