*Maurício Colin Nos últimos anos, temos vivido uma situação que desafia a lógica: as indústrias estão contratando, há vagas disponíveis, mas falta mão de obra. O levantamento mais recente do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostra que centenas de milhares de novas vagas formais foram abertas no Brasil só neste primeiro trimestre, muitas delas na indústria de transformação. No entanto, a dificuldade em preenchê-las se tornou um dos principais gargalos para o setor. Em um evento recente promovido pelo CIESP Guarulhos com mais de 260 participantes – industriais, profissionais de RH e de diversas áreas da indústria – muitos declararam estar contratando ou com vagas abertas, e ainda assim enfrentando enorme dificuldade para encontrar trabalhadores qualificados ou dispostos a trabalhar com carteira assinada. Em algumas empresas, esse desafio está travando a produção e comprometendo prazos. A pergunta que não quer calar: por que a população economicamente ativa está evitando o trabalho formal, especialmente na indústria? A resposta não é simples, mas começa por uma tendência crescente de valorização do trabalho informal, impulsionada pela busca por flexibilidade, liberdade de horários e ganhos imediatos. Jovens preferem ser motoristas de aplicativos, prestadores de serviços ou microempreendedores, em vez de seguir uma carreira tradicional. É compreensível: a informalidade seduz com autonomia e promessas de renda rápida. Contudo, o que parece liberdade pode se tornar armadilha. Na informalidade, não há previdência, não há estabilidade, não há plano de carreira, nem proteção em caso de acidentes ou doença. Isso é especialmente crítico para os mais jovens, que, ao não contribuir com o INSS, comprometem sua aposentadoria e seu futuro. O problema é real – e é estrutural! A nova geração valoriza outros elementos: propósito, ambiente saudável, aprendizado contínuo. A indústria precisa compreender essa nova mentalidade e se adaptar. Ambientes industriais ainda são vistos como rígidos, frios e pouco atrativos. Precisamos mostrar que o setor está mudando – e que há lugar para criatividade, tecnologia, desenvolvimento humano e crescimento real dentro das fábricas. Também precisamos reconhecer um desalinhamento entre a formação profissional e as exigências da Indústria 4.0. Boa parte das vagas exige habilidades técnicas e digitais que muitos ainda não possuem. A requalificação, nesse contexto, é urgente. É aí que entra o papel fundamental do SENAI! Com uma longa trajetória na formação de profissionais para a indústria brasileira, o SENAI oferece cursos técnicos, de qualificação e atualização alinhados com as necessidades reais do setor. Precisamos valorizar ainda mais essas iniciativas, fortalecer as parcerias entre empresas e o SENAI, e ampliar o acesso aos seus cursos – que já transformaram a vida de milhares de brasileiros. O que falta é articulação. Precisamos lançar uma nova bandeira. Não uma bandeira ideológica, mas um movimento social que valorize a carreira formal na indústria. Imagine uma campanha regional chamada “Carreira de Verdade” . Que vá às escolas, converse com as famílias, mostre histórias reais de sucesso de trabalhadores da indústria. Que valorize o salário fixo, o plano de saúde, o INSS, o 13º, as férias, o aprendizado, o crescimento interno. Precisamos ocupar as redes sociais, os centros de formação e as ruas com uma mensagem simples e poderosa: trabalhar na indústria, com carteira assinada, é ter dignidade, segurança e futuro. Essa é a bandeira que estou levantando na minha rede social – e você, está comigo nessa? Vamos fomentar esse debate juntos. Deixe seu comentário abaixo, compartilhe com sua rede. Esse assunto precisa ecoar. A indústria precisa do trabalhador. Mas o trabalhador também precisa da indústria! *Maurício Colin , engenheiro industrial e empresário, é o diretor titular do CIESP Guarulhos