Narciso no mundo empresarial: a busca pela imagem ideal e a desconexão com a realidade dos negócios
- Atualizado em*Maurício Colin
Nesta semana eu recebi do meu amigo Wilson Roberto Alonso o link para um artigo escrito por Marlene Theodoro Polito, com o tema do mito de Narciso e Eco, intitulado “A obsessão pela autoimagem pode levar à alienação e à desconexão com a realidade”, publicado em 27 de agosto no Diário de São Paulo. O texto me fez refletir sobre como o narcisismo se manifesta no mundo empresarial e a consequente perda de autenticidade.
Assim como Narciso se apaixonou pelo próprio reflexo, hoje muitos industriais estão obcecados pela criação de uma imagem idealizada de seus negócios. Essa imagem é frequentemente filtrada e polida para se alinhar aos padrões do mercado, resultando em uma desconexão perigosa com a realidade operacional. Essa obsessão pela aparência externa pode levar a estratégias preocupadas com projeção pública e, talvez, negligenciando a verdadeira essência interna da empresa.
Já encontramos diversos exemplos de indústrias que se posicionam como inovadoras e bem-sucedidas, mas que escondem os desafios e dificuldades que realmente sustentam o negócio. Esse culto à imagem não apenas cria expectativas irreais, mas também fragiliza a capacidade dessas empresas de reagir diante de crises ou mudanças. Afinal, ao focar demais na superfície, as bases que mantêm o negócio em pé podem se tornar instáveis. Essas são aquelas empresas que perderam contato com a realidade. Narciso definhou ao se apaixonar pela própria imagem. E, nos negócios, essa fixação na autoimagem pode levar à mesma consequência.
Podemos também pensar na ninfa Eco, condenada a repetir as palavras dos outros. Isso nos faz lembrar das indústrias que, em vez de inovar, preferem apenas seguir tendências já estabelecidas. Ao imitar concorrentes ou copiar soluções de outros contextos, essas empresas sacrificam sua própria essência e perdem a oportunidade de criar uma identidade única. Assim como Eco perdeu sua própria voz, essas indústrias correm o risco de perder sua essência, tornando-se apenas sombras do que poderiam ser.
Assim como Narciso, que se fixou tanto em sua própria imagem que perdeu a conexão com o mundo ao seu redor, essas empresas podem ignorar os sinais de alerta que surgem internamente. Problemas operacionais, um clima organizacional deteriorado ou a insatisfação dos clientes podem passar despercebidos, levando essas empresas à estagnação. E no mercado atual, onde a agilidade e a flexibilidade são essenciais, essa falta de percepção pode ser fatal.
Para alcançar um sucesso sustentável, líderes empresariais precisam buscar o equilíbrio entre a imagem externa e o valor real que suas empresas geram. Industriais conscientes sabem que, para sobreviver e prosperar, é preciso equilibrar a projeção da marca com uma base sólida e autêntica. Isso exige uma liderança que valorize a transparência, a inovação contínua e o crescimento sustentável, sem perder de vista o impacto que suas decisões causam em clientes, funcionários e na sociedade.
Hoje, recebi essa lição valiosa. Se eu quero manter minha indústria sustentável, preciso buscar incansavelmente esse equilíbrio, valorizando nossa imagem, mas sempre fundamentando-a em uma base sólida e autêntica. Dessa forma, evitarei o destino de Narciso e quero garantir que nossa empresa se mantenha solida e sustentável, indo além das aparências.
*Mauricio Colin, engenheiro industrial e empresário, é o diretor titular do CIESP Guarulhos