Aborto na Argentina: grupos acusam Milei de desinformação e menos remédios…
- Atualizado emValéria*, 28 anos, mora na Argentina e, quando descobriu que estava grávida novamente, sentiu que o mundo veio abaixo. Ela e o marido já são pais de uma bebê de 1 ano e meio e decidiram não ter o segundo filho, sobretudo pela preocupação com a instabilidade econômica que tem impedido parte da população de fazer planos a longo prazo. Apesar do medo natural com a situação, Valéria não se sentiu desamparada: ela vive em um país cuja interrupção voluntária de uma gravidez é legal, pública e gratuita.
“Não pensei muito. Tinha certeza que não queria outro filho, mas tive muito medo. Estamos lutando muito, trabalhando muito, porque na Argentina a economia é difícil. Eu e meu esposo entendemos que interromper a gestação seria o melhor para nós três: eu, ele e nossa bebê. Conhecemos a realidade que vivemos e sabemos das limitações”, conta ela.
A legalização do aborto na Argentina completou três anos em janeiro — foi aprovada pelo Congresso em 2020 e colocada em vigor em 2021. O texto autoriza que qualquer gestante no país possa interromper voluntariamente a gravidez não desejada até a 14ª semana de gestação. A lei também não impõe restrições a estrangeiras que desejam abortar na Ar…
Falta de remédios
Na Argentina, a maioria das pessoas que faz o aborto até a 14ª semana de gestação recebe a medicação no hospital, mas só a toma em casa, seguindo as recomendações dos profissionais da saúde (outro método, mais raro, é a aspiração manual endouterina, realizada apenas em hospitais). O protocolo inclui acesso a um procedimento interdisciplinar, com apoio psicológico e atenção à saúde no pós-aborto. Esse ecossistema, no entanto, está ameaçado, denuncia a médica Pilar Galende, da Federação Argentina de Medicina Geral, segundo a qual alguns medicamentos estão em falta…
Com o mega decreto de necessidade e urgência (DNU), se suprimiu a Agência Nacional de Laboratórios Públicos (ANLAP), responsável pela produção pública de medicamentos. Dessa maneira, explicou Pilar, tanto a pesquisa quanto a produção de medicamentos e matérias primas para remédios, vacinas, insumos e produtos médicos têm sido radicalmente afetadas.
“Nos preocupa essencialmente a produção dos medicamentos Misoprostol e da Mifepristona, que são básicos para interromper a gravidez. A Argentina permitia a distribuição e venda desses medicamentos em farmácia e o uso no sistema público e convênios médicos. Mas agora, com o novo governo, isso tem sido afetado”, denuncia ela…