Cocaína contamina baía de Santos de maneira preocupante, diz estudo - Taubaté

Cocaína contamina baía de Santos de maneira preocupante, diz estudo

Droga se acumula não só na água, mas em sedimentos e organismos marinhos e representa alto risco ecológico, apontou o professor da Unifesp Camilo Seabra

Droga se acumula não só na água, mas em sedimentos e organismos marinhos e representa alto risco ecológico, apontou o professor da Unifesp Camilo Seabra
Imagem: MARCIO RIBEIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Além de poluentes já conhecidos, a baía de Santos tem sido afetada por um contaminante emergente que hoje está presente não só na água, mas também em sedimentos e organismos marinhos em toda a região do litoral paulista: a cocaína.

A droga causa graves efeitos toxicológicos em animais como mexilhões-marrons (Perna perna), ostras de mangue (Crassostrea gasar) e peixes (enguias), de acordo com resultados de análises realizadas em laboratório por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Por isso, passou a ser considerada um contaminante emergente preocupante.

“A cocaína hoje é, de fato, um contaminante da baía de Santos. Encontramos contaminação pela droga

 

Por meio de um projeto apoiado pela Fapesp, o pesquisador, em colaboração com colegas da Unifesp e da Universidade Santa Cecília (Unisanta), identificou, em 2017, pela primeira vez, o acúmulo de cocaína e de outras substâncias derivadas de remédios em água superficial na baía de Santos e efeitos biológicos em concentrações ambientalmente relevantes.

Os pesquisadores também realizaram estudos para avaliar os efeitos da exposição à cocaína em mexilhões-marrons. Os resultados das análises indicaram que, após uma semana de exposição, os animais apresentaram níveis elevados de dois neurotransmissores: a dopamina e a serotonina. Essa alteração foi interpretada como uma resposta neuroendócrina que poderia causar impactos no sistema reprodutivo desses animais…

A fim de avaliar essa hipótese foram feitos estudos com outros animais, como enguias. As análises revelaram que a exposição crônica à cocaína afeta a ovogênese (formação dos óvulos) e esteroidogênese (produção de hormônios esteroides) desses peixes.

“Os ovos de enguia expostos à cocaína apresentaram menor taxa de maturação. Dessa forma, a cocaína pode ser entendida como um desregulador endócrino nesses animais”, afirmou Seabra.

Por meio de um projeto de doutorado realizado com Bolsa da Fapesp, os pesquisadores também analisaram o risco ecológico da exposição à cocaína em ostras de mangue usando a benzoilecgonina – um metabólito da droga – como biomarcador.

Rota de tráfico
De acordo com Seabra, a partir de estudos geoquímicos com testemunhos de sedimento estuarino, estima-se que a cocaína passou a se acumular no estuário de Santos a partir da década de 1930, mas as concentrações da droga na região saltaram nas últimas décadas.

Algumas das explicações para esse aumento é que a região é uma das principais rotas de tráfico da droga da América do Sul para a Europa. Além disso, a região, a exemplo de outras no país e no mundo, enfrenta o problema do aumento de usuários de drogas ilícitas, como a própria cocaína e o crack.

Outro problema é a falta de tratamento de esgoto na região, apontou Seabra. “O esgoto sem tratamento pode estar relacionados não só a drogas ilícitas, mas também álcool e tabagismo. “Mas há muitos desafios a serem superados para conseguirmos implementar um programa desse tipo na região”, avaliou Seabra…