Elas na Indústria discutiu o papel das mulheres no mercado de trabalho
- Atualizado emAlex de Souza e William Saab, Agência Indusnet Fiesp
“A diversidade nos chama para a festa, mas a inclusão nos convida pra dançar”. Com essa frase, Marta Livia e Grácia Fragalá, presidente e vice do Conselho Superior Feminino (Confem) da Fiesp, respectivamente, abriram as falas sobre a importância de valorizar a pluralidade de profissionais nos ambientes de trabalho, especialmente com relação às mulheres. Elas e outras lideranças participaram na manhã de terça-feira (29/3) de mais uma edição do Elas na Indústria, encontro que propõe discutir o cenário atual da participação das mulheres no mercado profissional. O evento foi transmitido pelo canal da Fiesp no YouTube e pode ser visto na íntegra aqui.
Os painéis começaram com a participação de Ana Carolina Querino, representante adjunta da ONU Mulheres Brasil. Ela destacou índices econômicos que refletem a disparidade entre os gêneros. Atualmente, elas possuem 78% da remuneração destinada a um homem. Esse percentual cai para 44% quando comparado com o salário de mulheres pretas. Ana Carolina reforça que os números tendem a piorar ainda mais quando olhamos para o cenário pandêmico.
Ela reforçou também a importância do setor privado para colaborar na mudança desse quadro: “A maior parte dos empregos estão nas empresas. Elas possuem um poder muito grande, pois as ações desenvolvidas internamente, quando bem aplicadas, são implementadas pelo setor público”, explicou a representante. E completou que é preciso também combater a fuga de talentos femininos, algo comum de se perceber conforme os cargos evoluem e passam a ser preenchidos somente por homens.
Já a responsável sênior do Programa de Integração Social e Econômica da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Michele Barron, chamou a atenção para a quantidade de refugiadas no mundo atualmente e exemplificou com o caso da Ucrânia, em que mais de 3,6 milhões de mulheres e crianças tiveram de deixar o país. “É preciso dar oportunidades a essas pessoas para que elas possam realizar um trabalho e terem a possibilidade de reconstruírem suas vidas. Muitas ficam refém do tráfico e da exploração sexual”, lamentou.
Já a presidente da Women in Leadership in Latin America (Will), Silvia Fazio, destacou as dificuldades da licença maternidade, um período que causa desconforto para mulheres que postergam esse momento da vida com receio de atrapalhar os planos de conquistarem uma posição de liderança no trabalho. “As empresas precisam criar um ambiente de empatia para que todos percebam as dificuldades desse momento, tanto para a decisão de engravidar quanto no retorno da licença”, aconselhou.
As dificuldades das mulheres pretas também foi tema da fala de Raphael Vicente, diretor geral da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial. Ele explicou que é preciso olhar para a história do Brasil para entender a configuração do mercado de trabalho atual: “A escravidão e a posterior política de embranquecimento fez com que a população preta tivesse pouca oportunidade, cabendo a essas mulheres trabalharem como domésticas”.
Por fim, encerrando os painéis, Mórris Litvak, fundador e CEO da Maturi, contou sobre os desafios enfrentados pelas mulheres acima dos 50 anos. Hoje, o Brasil possui 26% da população nesta faixa etária, o que representa mais de 55 milhões de pessoas, sendo, mais da metade, mulheres. Entretanto, ele revelou que somente de 3% a 5% do quadro de funcionários nas empresas é composto por esse perfil, evidenciando que muitas estão fora das atividades profissionais. “O que a gente busca é colocar essas mulheres em contato com outras pessoas, incentivar a capacitação e iniciativas em empreendedorismo. Temos que criar novas possiblidades para estas trabalhadoras”, destacou.
Cases – A diretora de recursos humanos da Lenovo no Brasil, Ana Paula Cavioli, apresentou as boas práticas da empresa, cujo faturamento no último ano foi de US$ 60 bilhões. O conglomerado encarou um ótimo exercício de integração quando comprou a Motorola, em 2014, e teve de colocar todos os funcionários debaixo de uma nova cultura organizacional. Isso não foi visto como um problema, mas uma rica oportunidade para inovar. “Inclusão se faz com amor e respeito. E trazer a diversidade e inclusão para dentro da empresa a torna inovadora. Isso é algo projetado, não acontece ao acaso”, disse a gestora.
Atualmente, 36% do quadro global de funcionários é composto por mulheres, sendo 21% do quadro executivo global e outros 26,4% de todas as funções técnicas globais. Até o ano fiscal de 2025/2026 a Lenovo pretende elevar o percentual de mulheres do quadro executivo de 21 para 27%. “Por meio dos esforços de diversidade e inclusão da empresa, conquistamos diversos prêmios e reconhecimento internacional”, disse.
Edinei Schemes, gerente de Recursos Humanos e Operações da John Deere na América do Sul, afirmou que o diferencial competitivo da multinacional está alicerçado em valores como integridade, qualidade, comprometimento e inovação. “Nossas ações não são algo paralelo ou que fazemos esporadicamente, mas parte dos nossos valores. Não há outra forma de invocar a inovação que não seja priorizando a diversidade, a equidade e a inclusão”, explicou Schemes.
As mulheres representam 19% dos líderes da empresa no Brasil, sendo elas 20% do quadro geral, 29% nas funções administrativas e 16% na produção, com 13% de imigrantes refugiadas. “A inovação é a base para se falar de diversidade e inclusão, um componente estratégico sustentado em nossos valores”, completou.
Você pode assistir à integra do ELAS NA INDÚSTRIA aqui