Produção industrial aumentou 0,7% em fevereiro - Franca

Produção industrial aumentou 0,7% em fevereiro

Agência Indusnet Fiesp

A produção industrial cresceu 0,7% na passagem de janeiro para fevereiro, nos dados sem influências sazonais. Frente a fevereiro de 2021, houve recuo de 4,3%. O resultado veio acima da expectativa do mercado (0,5%). A indústria de transformação avançou 0,6 % no mês de fevereiro. Já a indústria extrativa foi destaque positivo, com crescimento de 5,3% em sua produção. O nível da produção industrial está 2,6% abaixo do momento pré-pandemia (fevereiro de 2020).

O avanço na atividade industrial em fevereiro de 2022 foi espraiado, sendo acompanhado por todas as quatro grandes categorias econômicas e pela maior parte (16) dos 26 setores pesquisados.

Entre os setores, as influências positivas mais importantes foram obtidas pela indústria extrativa (+5,3%), que eliminou parte da redução do mês anterior (-5,1%),1 e produtos alimentícios (+2,4%), que marcou o quarto mês seguido de avanço na produção e acumulando nesse período ganho de 14,0%. Outras contribuições positivas relevantes para o total da indústria em fevereiro vieram de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (12,7%), veículos automotores, reboques e carrocerias (3,2%), metalurgia (3,3%), bebidas (4,1%), outros equipamentos de transporte (15,1%) e produtos de borracha e material plástico (2,9%). Os destaques negativos ficaram por conta de produção, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,8%) e celulose, papel e produtos de papel (-3,4%).

Entre as grandes categorias econômicas, na comparação com o mês anterior, bens de capital e bens intermediários voltaram a crescer na passagem para fevereiro, atingindo 1,9% e 1,6% respectivamente. Bens de consumo semi e não-duráveis também apresentaram crescimento positivo de 1,5%, chegando ao quarto mês consecutivo de crescimento na produção.

Por fim, o setor produtor de bens de consumo duráveis, da mesma forma, mostrou avanço em fevereiro, com crescimento de 0,5%, ficando abaixo da média da indústria (0,7%). Vale destacar que esse segmento recuou 11,7% em janeiro de 2022. Dados com ajuste sazonal. Frente a fevereiro de 2021, todas as categorias tiveram resultado negativo: bens de consumo duráveis (-17,6%), bens de capital (-5,0%), bens de consumo semi e não-duráveis (-4,9%) e de bens intermediários (-2,6%).

Para os próximos meses, a expectativa da Fiesp para a atividade industrial não é de forte recuperação. Estímulos fiscais, como a antecipação do pagamento do 13º salário para aposentados e pensionistas e o saque do FGTS no valor de R$ 1.000, são elementos favoráveis para a retomada da indústria de transformação. Entretanto, além do forte aperto monetário implementado pelo Banco Central, elevando a taxa Selic para 11,75% (a expectativa do mercado é que encerre em 13% em 2022), a guerra na Ucrânia adiciona pressão adicional sobre os custos de produção e assim posterga a normalização das cadeias globais de insumos. Pesquisa realizada por Fiesp/Ciesp com indústrias paulistas no mês de março dimensiona este fenômeno: dos entrevistados, 26% relataram dificuldades para adquirir os insumos em março. Para abril, a expectativa é pior: 33,6% afirmaram que terão dificuldade para acessar as matérias-primas. Esses dois fatores, aperto monetário e o conflito na Ucrânia, colocam expectativas negativas para o dinamismo da indústria neste ano.

Com respeito ao aumento da taxa de juros, vale notar que o efeito negativo sobre a indústria de transformação é mais expressivo do que para a economia como um todo, em particular, o setor de serviços. A elevação da taxa de juros afeta a demanda doméstica pelo canal do crédito ao encarecer o financiamento de bens duráveis como, por exemplo, de veículos e eletrodomésticos. A partir de um modelo econométrico, a Fiesp2 estima que um aumento de 1,0 p.p da taxa real de juros tem impacto sobre o PIB da indústria de transformação superior a 50% ao que ocorre no PIB total.

O indicador antecedente da indústria de transformação (IAT) da Fiesp sinaliza para um quadro de fraqueza do setor à frente. Inspirado no Composite Leading Indicator da OCDE, o IAT foi construído com o objetivo de antecipar os ciclos de expansão e desaceleração da produção da indústria de transformação brasileira. Historicamente, o IAT antecipou a trajetória futura da produção da indústria de transformação com ao menos 6 meses de antecedência, em média. Considerando as informações até fevereiro, o IAT aponta para um cenário mais negativo ao longo do 2º semestre de 2022,3 condizente com os efeitos esperados do processo de forte aperto monetário adotado pelo Banco Central.4

Ademais, este momento de incerteza reflete na confiança do empresariado industrial. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostrou que dos 29 setores pesquisados, a confiança caiu em 22 no mês de março. Segundo a Sondagem Industrial da FGV, o Índice de Confiança da Indústria encerrou em 95,0 pontos em março, queda de 1,7 ponto em relação ao mês de fevereiro, oitava queda mensal consecutiva.

Para o ano de 2022, a projeção da Fiesp para a produção industrial brasileira é de queda de 1,5%. Se essa expectativa se confirmar, será a sexta redução da produção industrial num intervalo de dez anos. Para a economia brasileira, a expectativa da Fiesp é de estabilidade do PIB em 2022.

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1 A indústria extrativa foi afetada no início do ano pelas fortes chuvas que interromperam as operações de minério de ferro em Minas Gerais.

2 A abordagem consistiu em estimar um modelo vetorial autogressivo (VAR), contendo como variáveis endógenas: (i) o hiato do produto; (ii) o hiato da taxa real de juros – definido pela diferença entre a taxa real ex-ante (taxa nominal Swap DI x Pré de 360 dias menos a expectativa de inflação do IPCA 12 meses à frente) e a taxa de juros real neutra estimada pelo BACEN; (iii) a taxa de inflação dos preços livres do IPCA. Como variáveis exógenas o modelo considerou: (iv) o hiato do produto mundial (diferença entre o PIB mundial e sua tendência extraída pelo filtro HP); (v) uma variável de incerteza econômica (calculada pela diferença entre o índice de incerteza econômica, da FGV, e sua média amostral; (vi) uma medida de estímulo fiscal (diferença entre o resultado primário estrutural do governo e sua tendência de longo prazo estimada pelo filtro HP. Os dados são trimestrais compreendendo o período entre o 4º trimestre de 2003 e o 4º trimestre de 2019 (pré-pandemia). A especificação do VAR foi com duas defasagens, determinada pelos critérios de informação, que se mostrou adequada levando em conta o comportamento dos resíduos (ruído branco). No cálculo das funções de resposta ao impulso (taxa de juros), foi adotada a decomposição de Cholesky com ordenação: hiato da taxa de juros → hiato do PIB → preços livres do IPCA. Essa especificação tem como inspiração o modelo que o Banco Central estima para descrever a dinâmica do hiato do produto doméstico (curva IS), descrito no boxe “Revisão do modelo agregado de pequeno porte” do Relatório de Inflação de dezembro de 2021.

3 O IAT é construído a partir de cinco séries: (i) Demanda futura: indicador de expectativa de demanda para os próximos 6 meses da Sondagem Industrial da CNI; (ii) Risco país: EMBI (Emerging Market Bond Index); (iii) Ibovespa; (iv) Juros real: ex ante – Swap Pré x DI 360 dias descontado pela expectativa do IPCA para os próximos 12 meses; (v) Exportações: índice de quantum de exportações da Funcex.

4 Considerando a taxa de juro real neutra estimada pelo Banco Central (3,6%), a política monetária entrou no terreno contracionista no 4º trimestre de 2021. Dadas as defasagens do aumento da taxa de juros sobre a atividade econômica, estimada entre seis e nove meses, a expectativa é que a economia comece a sentir fortemente os efeitos do atual ciclo de aperto monetário no 2º semestre de 2022.