Presidente da Associação Paulista de Medicina afirma que existe ‘excesso’ de utilização do Judiciário na área da saúde
- Atualizado emFlorisval Meinão diz que é preciso encontrar solução por vias administrativas. Evento realizado na sede da Fiesp e do Ciesp teve a participação de especialistas do setor
“É preciso que se encontre uma solução que do ponto de vista administrativo aponte caminhos sem que seja necessário o recurso ao judiciário”, completou.
Impacto no SUS
A palestra “Impacto da Judicialização no Sistema Único de Saúde (SUS)” contou com a participação do promotor de Justiça e chefe de gabinete da Secretaria de Estado da Saúde, Dr. Reynaldo Mapelli Júnior.
O promotor afirmou que a Constituição Brasileira coloca o direito à saúde como um direito social, um dever do estado, assim como o acesso à Justiça é um “direito fundamental de todo cidadão”.
Segundo ele, existem opiniões muito divergentes no que diz respeito ao tema da judicialização. “Alguns acreditam que a única forma da saúde se desenvolver é por meio de ações judiciais e que isso apenas beneficia a população, já que o sistema de saúde apresenta muitas falhas”, disse. “Por outro lado, muitos acreditam que a maioria dessas ações judiciais é de caráter individual, onde se busca direitos particulares e medicamentos, produtos de alto custo, demandados por pessoas que têm melhores condições financeiras, prejudicando o sistema como um todo”.
“Uma parte dessa judicialização certamente decorre das falhas do SUS ou dos planos de saúde. Por exemplo, quando a pessoa não consegue obter determinado tratamento, encontra filas muito longas e medicamentos necessários não são obtidos, ela pode e deve procurar o poder judiciário”, afirmou o promotor.
Comercialização de órteses, próteses e materiais especiais
Em seguida, a presidente da União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas), doutora Denise Eloi, abordou o cenário de comercialização de órteses e próteses e materiais especiais.
Segundo ela, a cadeia produtiva de saúde tem hoje um desafio, que é buscar soluções que envolvem a matéria da judicialização.
Denise também afirmou que mais transparência das informações é necessária para a sociedade em relação ao sistema de saúde. “As liminares servem para reparar muitos abusos e é bom que elas apareçam sempre com o sentido de promover a qualidade da saúde”, disse. “E não para promover a satisfação de pessoas que têm uma visão do lucro em detrimento da qualidade assistencial”.
A visão do advogado
Costantino Salvatore Morello Jr., presidente da Comissão de Cooperativismo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), abordou a judicialização na visão do advogado. “A judicialização estabelece um elo entre o estado e o paciente, sendo este o credor do serviço prestado pelo estado. A culpa pela atual situação da saúde não é das operadoras”, afirmou.
“Muitos problemas surgem da falta de investimento do estado, que não cumpre com a sua obrigação. Fato é que o judiciário não faz política pública”, ressaltou.
Morello destacou ainda os investimentos feitos em saúde no Brasil e no exterior. “Segundo a OMS, o Brasil investe anualmente US$ 411 per capita em saúde, quando a média mundial é de US$ 711. Os Estados Unidos, por exemplo, gastam, por pessoa, cerca de US$ 4 mil dólares – dez vezes mais que aqui”.
Para Morello Jr., faz-se urgente um “pacto em que todos os envolvidos levem nossa saúde a uma condição minimamente digna”.
Fechando a tarde de palestras, o tema ‘A Jurisprudência do TJSP sobre Ações de Saúde’ foi debatido pela doutora Maria Gabriella Pavlopoulos Spaolonzi, juíza e assessora da presidência da seção de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Amanda Viana e Guilherme Abati, Agência Indusnet Fiesp