Sunil Gupta: 'O mundo se desenvolve numa velocidade nunca vista antes' - CIESP

Sunil Gupta: ‘O mundo se desenvolve numa velocidade nunca vista antes’

Isabela Barros, Agência Indusnet Fiesp

Ele vive com um olho no presente e o outro no futuro. Professor de Administração de Negócios da Escola de Negócios de Harvard (Estados Unidos), Sunil Gupta defende que estejamos todos, pessoas físicas ou jurídicas, em desenvolvimento constante. Em visita ao Brasil a convite da Fiesp, ele lotou o auditório do Teatro do Sesi-SP, no prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, na Avenida Paulista, na última quarta-feira (05/04). Na entrevista abaixo, ele fala sobre temas como tecnologia, indústria 4.0, marketing digital e redes sociais.

É a sua primeira vez no Brasil? O senhor conhecia o trabalho do Senai-SP?

Sim, é a minha primeira vez. Eu não conhecia o trabalho do Senai-SP e achei fabuloso. Fiquei impressionado com a quantidade de jovens que têm a sua formação profissional oferecida pela rede.

O senhor conhece a indústria brasileira?

Convivo com muitos brasileiros no programa de estudos que desenvolvo em Harvard e por isso me sinto familiarizado com alguns temas nacionais. A indústria brasileira é forte, tem grande potencial de desenvolvimento, mas também enfrenta problemas. O Brasil é bom em muitas áreas, como a petroquímica e o setor bancário, por exemplo, mas é importante lembrar que o mundo se desenvolve numa velocidade nunca vista antes. É preciso acompanhar esse movimento.

A indústria brasileira já entrou na era 4.0, guiada pela internet, pela interligação dos processos e pelo aumento da produtividade?

Eu diria que sim, mas num estágio inicial. Na verdade, poucos países estão avançados nesse campo, como a Alemanha, que sempre foi forte quando o assunto envolve manufatura. Lá, eles são focados em pontos como o controle de qualidade da produção e na produtividade, por exemplo.

Na Europa, de modo geral, essa discussão é mais presente, como no caso do Reino Unido. Os Estados Unidos, na América do Norte, vão na mesma direção.

Quais as mudanças mais importantes trazidas pela indústria 4.0?

A melhora na produtividade e na eficiência é sem dúvida o primeiro efeito da indústria 4.0 nas empresas. Com tecnologia e sistemas interligados, é possível agir mais rapidamente em caso de emergência, salvar vidas se for preciso e ainda reduzir custos.

Os próprios modelos de negócios devem mudar. Veja o caso da Amazon. Estabelecida como uma loja virtual, a empresa agora está testando um modelo de loja física, a Amazon Go, na qual os consumidores fazem as suas compras sem ter que passar pelo caixa, já que a empresa tem todas as informações sobre os clientes, como o número do cartão de crédito. É um novo conceito.

E com relação aos trabalhadores, como o emprego vai mudar diante de todas essas transformações?

Haverá mudanças significativas na força de trabalho. Desde os anos 1970 não faz sentido que seres humanos façam trabalhos mecânicos, repetitivos, que robôs podem fazer melhor.

Em tese, trabalhos intelectuais estão preservados, mas o que o ocorre é que, aquilo que eu faço, dar aulas, por exemplo, passa a não fazer sentido se eu fizer sempre as mesmas coisas, se falar sempre as mesmas coisas. Nesse caso, uma máquina pode me substituir. Temos que nos reinventar o tempo todo, dar o nosso melhor, ter abertura para aprender.

Que recomendações o senhor faria aos empresários brasileiros sobre o marketing digital?

Antes, as empresas anunciavam na televisão e todo mundo via. Agora não é tão simples: é preciso ir até o consumidor de diferentes formas. Os próprios consumidores vão em buscar dos produtos, entram no Google, escrevem o nome daquilo que procuram. Ou seja, vão atrás das empresas eles também. Sem falar que uma pessoa fala para a outra de determinado produto nas redes sociais. São muitas as formas de acesso à informação. Isso significa que as marcas precisam ser muito mais transparentes hoje do que eram no passado.

Principalmente em relação ao que divulgam nas redes sociais?

Sim. As redes sociais são uma faca de dois gumes. É muito fácil para mim viajar por uma companhia aérea e postar que fui maltratado durante o voo, as consequências são imediatas para as empresas. É como colocar fogo numa floresta, o incêndio precisa ser apagado rapidamente para que não se espalhe.

As redes sociais permitem que os consumidores provoquem esses incêndios, a questão é como as empresas vão lidar com essas situações. É preciso responder imediatamente, em minutos, e ser transparente, não dá para dizer que a empresa não tem nada a ver com o problema. É preciso cuidar da própria floresta, evitar que ela esteja seca, facilitando a propagação de incêndios.

 

Gupta: “Os próprios modelos de negócios devem mudar”. Foto: Ayrton Vignola/Fiesp