Seminário da Fiesp aborda iniciativas públicas e privadas na promoção da saúde mental  - CIESP

Seminário da Fiesp aborda iniciativas públicas e privadas na promoção da saúde mental 

Clarissa Viana, Agência Indusnet Fiesp 

Setembro Amarelo e a importância do cuidado com a saúde mental foram tema central do seminário realizado pelo Conselho Superior de Responsabilidade Social (Consocial) da Fiesp nessa terça-feira (28/9), com apresentação de iniciativas do Poder Público, cases da indústria e dos programas promovidos pelo Sesi-SP e pelo Senai-SP com os alunos.

Vice-presidente do Conselho, Grácia Fragalá enfatizou a importância que a saúde mental ganhou desde o início da pandemia. “A exceção da situação em que vivemos trouxe mais atenção ao cuidado com a saúde mental, seja pelo medo da infecção, seja pelo desgaste da realidade de estar na linha de frente. Temos visto muitas pessoas impactadas, mas também empresas e grupos se mobilizando para cuidar da saúde mental, e hoje vamos conhecer algumas iniciativas louváveis nessa área”, ponderou. 

Para a vice-presidente do Consocial, Grácia Fragalá, a saúde mental ganhou nova dimensão e importância em função da pandemia. Fotos: Karim Kahn/Fiesp

 

O setembro amarelo do governo federal 

Abrindo as apresentações, a Secretária Nacional da Família no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Angela Gandra, destacou a importância da família como aliada das políticas públicas de prevenção ao suicídio e à automutilação. “A família é a prevenção da prevenção. Por isso, políticas públicas familiares, em geral, tendem a ser mais efetivas, pois envolvem e se compartilham a responsabilidade com a família, dando informação e empoderando as pessoas para esse acompanhamento mais próximo tão necessário na prevenção do suicídio e da automutilação”, destacou.  

A médica Mayra Pinheiro, representando o Ministério da Saúde, pontuou as principais ações, durante o mês de setembro, para prevenir o suicídio e cuidar da saúde mental da população. “A pandemia deixou muito claro a necessidade de cuidar melhor da saúde mental das pessoas e romper com o estigma das doenças mentais. Embora ainda tenhamos a liberdade de adoecer por uma virose, nossa sociedade ainda estigmatiza quem se posiciona como portador de um transtorno psiquiátrico”, analisou.  

Segundo a secretária, foram criados ambulatórios de psiquiatria nas Unidades Básicas de Saúde, além da ampliação do custeio dos medicamentos que ajudam a tratar desses transtornos. “Também lançamos um treinamento dos trabalhadores do SAMU para qualificá-los na assistência a pacientes em sofrimento psíquico e, assim, humanizar o atendimento. E pretendemos, em dezembro, lançar o 196, atendimento telefônico de socorro à saúde mental, uma experiência preparada a partir dos principais serviços internacionais”, listou a Secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro.

Daniel Celestino, diretor do Departamento de desafios sociais no âmbito familiar do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, apresentou o projeto Acolha a Vida, iniciativa do governo federal para prevenir o suicídio e a automutilação.  

“Como já apontaram diversas pesquisas, a participação da família é decisiva na melhora da saúde mental. O projeto Acolha a Vida foi criado para fortalecer esses vínculos familiares, para que as próprias famílias promovam o bem-estar mental de seus membros, aprendam a identificar precocemente os sinais de sofrimento emocional e trabalhem para diminuir os fatores de risco do sofrimento”, comentou.  

A sociedade civil e o cuidado com a saúde mental 

Um dos especialistas da área acadêmica convidados para participar do evento, Dr. Arthur Guerra, docente da Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), abordou os conceitos mais atuais sobre saúde mental e como a sociedade e as empresas olham para a saúde mental.  

“Antigamente, pensava-se que era apenas a ausência de doença ou enfermidade, mas hoje já vemos que é um componente essencial da saúde, que contempla os aspectos físico, mental e social. A Organização Mundial da Saúde (OMS) é enfática em definir que não existe saúde sem a saúde mental”, definiu.  

De acordo com o Dr. Guerra, o cenário de incertezas do desconhecido desde o início da pandemia levou a uma piora em quadros de depressão, ansiedade, insônia, dor crônica e até síndrome de burnout. Muitos desses sintomas eram percebidos primeiro no ambiente de trabalho, mas, com o distanciamento social e a política de home office de muitas empresas, perdeu-se a oportunidade de cuidar da saúde e prevenir as doenças psíquicas.  

Referência no debate de saúde mental, o médico psiquiatra Dr. José Manoel Bertolote destacou a importância da escuta empática e da participação da família – a principal rede de apoio de muitas pessoas. “Um dos elementos centrais que percebemos na diminuição dos casos de suicídio foi exatamente a participação da família, analisando os países no contexto da pandemia. Ao criarmos rodas de escuta, e não de fala, estabelecemos uma rede de apoio para as pessoas com ideação suicida”, pontuou.  

Carlo Pereira, da Rede Brasil, enfatizou a necessidade de tratar a saúde mental como assunto permanente dentro das organizações

 

O diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global das Nações Unidas (ONU), Carlo Pereira, apresentou o Movimento Mente em Foco, iniciativa para que as empresas incluam o bem-estar mental na pauta e adotem medidas para cuidar de seus funcionários. “O que vemos, dentro das empresas, é que não existe nenhuma atuação preventiva eficaz, porque medidas como acesso a benefícios, como academia, não são suficientes. Por isso, nós, da Rede Brasil, trabalhamos para que as empresas assumam compromissos para melhorar a saúde mental de seus colaboradores. Não é apenas sobre tratar os pacientes com burnout, mas tratar essa pauta como um assunto permanente na organização”, avaliou. 

Cuidar dos alunos 

No Sesi-SP e no Senai-SP diversas iniciativas foram desenvolvidas antes mesmo da pandemia a fim de promover um ambiente saudável entre os alunos. Por essa razão, foram convidados porta-vozes das duas instituições para apresentar o que se faz e envolve toda a comunidade escolar.  

Alexandre Pflug, superintendente do Sesi-SP, tratou do cuidado com os alunos da rede, que já passam boa parte do dia nas escolas. “A pandemia nos aproximou dos alunos e dos familiares, mesmo com a adoção do modelo de aulas a distância. Essas crianças sofreram mudanças muito profundas na rotina durante as aulas virtuais, e a saúde emocional foi afetada também pela situação, da ausência de regras da escola à distância de amigos e professores. Muito tem sido falado em relação à defasagem do aprendizado, mas também precisamos acolher essas crianças no momento da retomada das aulas presenciais, para diluir esses atrasos e não sobrecarregar o emocional desses alunos”, expôs. De acordo com Pflug, o retorno das atividades se deu de forma mais segura para todos da comunidade escolar quando o Sesi-SP disponibilizou uma rede de acolhimento, atendendo a pais, alunos e funcionários das escolas para atenuar o isolamento vivido por eles.  

Alexandre Pflug, superintendente do Sesi-SP, apresentou os cuidados adotados com os alunos da rede Sesi-SP

 

No Senai-SP, as principais iniciativas tiveram início em 2019, antes mesmo da pandemia do novo Coronavírus, com o programa Dimensão 360º. “Só vamos conseguir desconstruir o tabu do suicídio quando ele fizer parte, naturalmente, da pauta de tantas conversas e seminários como esse. E, no Senai-SP, percebemos a necessidade de mapear e acompanhar a saúde mental dos nossos alunos e colaboradores para cuidar de todos. Nosso programa é chamado de Dimensão 360º porque são ações integradas, reunindo todos os atores da escola e cuidando para que exista um ambiente saudável para acolher quem precise de ajuda e também para promover o bem-estar mental”, explicou Cassia da Cruz, gerente de educação do Senai-SP. 

Cases de sucesso da indústria 

Para completar as apresentações, foram convidadas duas porta-vozes de grandes indústrias para apresentar e ações adotadas na promoção da saúde mental. Regiane Soccol apresentou o programa de resiliência e bem-estar do grupo Johnson&Johnson. “Oferecer benefícios de bem-estar e estímulo a hábitos saudáveis é importante, mas sabemos que não é só isso, que precisamos nos preparar para os casos de colaboradores que precisam de serviços profissionais de apoio e cuidado especializados. Por isso, temos ações e equipes internas, estimulando essa escuta, o debate e o cuidado com a saúde mental, mas também temos uma rede de apoio para os profissionais que necessitem de ajuda em momentos de crise”, relatou.   

Na Siemens, Caroline Zilinski explicou que uma parte do cuidado com os colaboradores se deu a partir da adaptação de momentos de convívio, que antes aconteciam no ambiente corporativo, ao meio virtual. “A obrigação do isolamento causado pela pandemia trouxe um acúmulo de atribuições das vidas pessoal e profissional. E isso gerou uma carga com a qual ninguém estava preparado para lidar, entrou na agenda de líderes e de pessoas que não tinham a saúde mental como prioridade antes da crise. Na Siemens, já tínhamos uma série de ações que foram expandidas para o cuidado da saúde mental, mas criamos programas para trazer elementos do ambiente corporativo, como a pausa do café, para o espaço virtual e o home office, exatamente para dar o suporte para nossos colaboradores mesmo a distância”, destacou.