SEMANA FIESP-CIESP DE MEIO AMBIENTE - CIESP

SEMANA FIESP-CIESP DE MEIO AMBIENTE

Preservação ambiental também pode ser sinônimo de negócios

 

Transformar o desafio ambiental em oportunidades de negócios foi o assunto discutido na segunda mesa-redonda da Semana Fiesp-Ciesp de Meio Ambiente 2008, na manhã de ontem (2). Para Walter Sacca, diretor adjunto do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Fiesp e do Ciesp, os riscos que se impõem à sociedade e a urgência de se atingir a sustentabilidade não deixam de ser uma oportunidade para o desenvolvimento de metodologias e processos que diminuam o ritmo de depredação dos recursos naturais. “Toda caminhada começa com o primeiro passo. Na medida em que se estabelece um prêmio para quem preserva o verde, estamos colocando no cálculo da economia algo que não se colocava antes. Já é uma mudança de atitude no caminho correto”, destacou Sacca, que conduziu o debate.

 
Na ponta do lápis
Emissão de poluentes e aquecimento global: uma relação de causa e efeito que abriu espaço para o potencial mercado de créditos de carbono, cuja idéia principal é transformar preservação ambiental em atividade lucrativa. A necessidade de se diminuir a emissão de gases do efeito estufa foi firmada com o Protocolo de Kyoto, em 1997, quando um tratado foi assinado entre países para a redução do depósito de gases no meio ambiente. Pelo primeiro compromisso, os países desenvolvidos (Anexo I) têm como meta reduzir a emissão em 5,2% em relação a 1990, entre 2008 e 2012.
 
Para atingirem a meta de redução e não comprometerem suas economias, o protocolo estabeleceu que parte da meta pode ser cumprida por meio de negociações com outros países, como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Dessa forma, países emergentes – como Brasil, China e Índia, que ainda não têm metas de redução definidas pelo acordo – podem ser “anfitriões” de projetos de desenvolvimento limpo e gerar créditos de carbono negociados no mercado internacional. “Do total de créditos gerados durante o ano de 2007, 73% vieram da China. O Brasil respondeu com apenas 6%, número muito próximo da Índia. O nosso potencial é muito grande, e nós temos que explorá-lo”, defendeu Álvaro Mendonça, diretor de produtos financeiros e ambientais da BM&F Bovespa.
 
Mercado em ascensão
Segundo Mendonça, o total de créditos gerados nos países do MDL (fora do Anexo I) no último ano gira em torno de 13 bilhões de dólares, com 870 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) equivalente. “No mercado primário [de créditos que ainda serão expedidos], em 2007, o preço da tonelada ficou em aproximadamente 16 euros. Esse ano, já estão abrindo na faixa de 17 euros. Observamos uma progressão, e este é um estímulo positivo que o mercado está transmitindo ao Brasil”, disse.
 
Além disso, os fundos de carbono europeus demandam grande quantidade de crédito e precisam de novos participantes para que consigam estocar RCEs (Reduções Certificadas de Emissões) para as indústrias desses países, que estão sob restrição de emissão – excelente oportunidade para a oferta brasileira. “Existem aproximadamente 60 fundos de carbono que investiram 7 bilhões de euros em 2005, e estima-se que devam investir 10 milhões de euros em 2008. Os principais players desse mercado estão extremamente ansiosos por realizar compras em países como o Brasil”, salientou o diretor da BM&F Bovespa.
 
No entanto, para ele, o grande problema que afeta a participação do país no comércio de carbono é a ausência de um marco regulatório sobre os créditos, que gera instabilidade na indústria. “Como esse produto vai ser tributado? Como vou identificá-lo na minha contabilidade? O empresário sério tem que estar preocupado com isso, e também deve se empenhar para criar o marco regulatório”, frisou.
 
Custos
Segundo Mendonça, um dos objetivos de curto prazo da Bolsa é tentar obter isenção tributária para todos os créditos gerados no ambiente do MDL. “Tanto a negociação primária como a secundária são tipicamente para exportação, e também se enquadram como um ativo meritório, já que a empresa está trabalhando para melhorar a sociedade como um todo. Portanto, deveria ter um certo benefício, que não implica qualquer renúncia fiscal, porque não se está arrecadando nada”, justificou o diretor.
 
Os custos da geração dos créditos também preocupam. Hoje, um projeto do zero até a certificação pela Organização das Nações Unidas (ONU) custa entre 100 e 120 mil dólares. Para fomentar novos projetos em MDL, principalmente pelas pequenas e médias empresas, a Bolsa começa a costurar com o mercado a criação dos novos fundos de carbono – que, mais uma vez, depende de regras claras definidas por um marco regulatório. “A idéia é criar fundos vendedores de carbono, que pudessem financiar os projetos, mutualizar e reduzir esses custos, tornando-se grandes ofertantes de crédito para pequenas iniciativas da indústria”, apontou Mendonça.
 
Os riscos
Segundo Hugo Ferraz Penteado, economista-chefe e estrategista do banco ABN Amro Real, mais do que saber aproveitar as oportunidades, é preciso se conscientizar de que o ser humano é a parte vulnerável e totalmente dependente dos recursos naturais. No entanto, a teoria econômica tradicional nunca levou em conta o meio ambiente e as pessoas nos seus modelos matemáticos. “A teoria assume que o sistema econômico é neutro para o meio ambiente, e os processos são tidos como totalmente reversíveis. Temos um modelo mental muito preocupante”, pontuou Penteado.
 
Ele enfatizou a mudança de mentalidade em relação à utilização dos recursos, para que seja possível mudar a atitude e alcançar a sustentabilidade. “Para o economista, uma árvore só tem valor quando é derrubada ao chão, para poder gerar créditos de carbono. Só que tem um problema: existem serviços ecológicos dos quais a humanidade depende que são irreproduzíveis. Há um erro teórico fundamental em assumir que a natureza é inesgotável. É essa situação que nós temos, e é por aí que temos que começar a mudar”, alertou o estrategista do ABN Amro Real.
 
Postura – Para Walter Lazzarini, presidente do Conselho Superior de Meio Ambiente da Fiesp, o maior negócio do meio ambiente é a preservação. “Sentimos hoje um aumento da consciência do consumidor, e o cerco está cada vez mais fechado às práticas ambientalmente incorretas”, sublinhou. Para ele, as empresas podem explorar nichos de mercado com a produção ecologicamente correta e o desenvolvimento de novos produtos, que identifiquem a necessidade de reduzir o desperdício.
 
Segundo Álvaro Mendonça, da BM&F Bovespa, o potencial do mercado brasileiro para créditos de carbono também se deve, em parte, a essa responsabilidade. “A indústria vive hoje sob uma pressão muito grande dos consumidores. A preocupação ambiental está presente em todos os pontos do planeta. Então, para vender, a empresa tem que ter essa consciência e desenvolver ações para que se apresente de uma forma positiva”, completou.
 
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Confira a programação da Semana Fiesp-Ciesp de Meio Ambiente 2008
 
Foto: Kênia Hernandes
 
Agência Ciesp de Notícias
Mariana Ribeiro
02/06/2008