Embaixadores da Eslovênia e do Brasil examinam acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia - CIESP

Embaixadores da Eslovênia e do Brasil examinam acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia

Mayara Moraes, Agência Indusnet Fiesp

Membros do Conselho Superior de Comércio Exterior (Coscex) da Fiesp se reuniram virtualmente na manhã desta terça-feira (19/10) para discutir o cenário, os aspectos e as implicações do acordo entre Mercosul e União Europeia com o embaixador da Eslovênia no Brasil, Gorazd Rencelj, e o embaixador do Brasil junto à União Europeia, Marcos Galvão. 

O Mercado Comum do Sul e a União Europeia fecharam o acordo de livre comércio entre os dois blocos em 28 de junho de 2019. Caso venha a ser efetivado, o tratado constituirá uma das maiores áreas de livre comércio do mundo e trazer resultados significativos para o Brasil. De acordo com estimativas da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia, o acordo deve gerar incremento de US$ 87,5 bilhões no PIB brasileiro em 15 anos e um ganho de quase US$ 100 bilhões nas exportações brasileiras até 2035. 

Durante o encontro organizado pela Fiesp, o embaixador da Eslovênia no Brasil afirmou que o acordo é estrategicamente um dos temas mais importantes para União Europeia e Mercosul e que a Eslovênia irá aproveitar o período em que exerce a presidência do Conselho da União Europeia para fazer avançar as negociações em torno do tratado. “Apoiamos este acordo e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para aproveitar essa oportunidade histórica de concluí-lo”, disse Rencelj.  

O diplomata traçou um panorama do cenário em que estão circunscritas as negociações. As palavras de ordem ditadas pelo Conselho europeu são retomada, recuperação e resiliência. Assim como o resto do mundo, a Europa tenta colocar sua economia de volta nos trilhos, depois do choque provocado pela pandemia de Covid-19, ao mesmo tempo em que consolida seu comprometimento com medidas voltadas à preservação do meio ambiente. 

“É importante ter isso em mente quando falamos do envolvimento atual da União Europeia com o mundo, incluindo o Mercosul e o Brasil”, advertiu o embaixador. “A União Europeia, como ator global, pretende passar por profundas transformações, e essas oportunidades de mudança também se refletirão na maneira como a União Europeia fala e negocia com outros atores, como o Brasil”, acrescentou. 

Embora reconheça que o caráter comercial do acordo seja atraente para o desenvolvimento econômico, a produtividade e a competitividade dos dois blocos, o diplomata é enfático ao dizer que o tratado transcende os interesses econômicos e comerciais de Mercosul e União Europeia. 

“Nossas relações são definidas como estratégicas há muitos anos e vão além desse acordo. Política comercial é um aspecto importante, mas não exclusiva das interações com a União Europeia”, alertou Rencelj. “Dizer que tudo está em espera enquanto aguardamos outras etapas para concluir o acordo de livre comércio seria impreciso”, prosseguiu. 

Fotos: Ayrton Vignola/Fiesp

Meio ambiente

A pauta ambiental não ficou de fora da discussão. O embaixador esloveno lembrou que as preocupações com o meio ambiente no Brasil se tornaram latentes desde 2019 e se tornaram centro do debate do acordo entre sul-americanos e europeus.  

“Há muita especulação sobre o quão bem fundamentadas essas especulações são”, disse o diplomata. “Fazer suposições não ajuda muito em situações como esta, é mais útil se ater aos fatos e buscar apoiadores do Acordo de ambos os lados para encontrarmos uma maneira de enfrentar e superar este desafio”, disse. 

Para o embaixador do Brasil junto à União Europeia, o Brasil jamais minimizou ou questionou a legitimidade das preocupações da comunidade internacional com o meio ambiente, ou ignorou que está envolvido em um problema de imagem significativo. Entretanto, membros da sociedade e setores produtivos importantes têm se empenhado para mudar esse quadro. 

“A Europa tem uma preocupação legítima e nós também temos”, admitiu Marcos Galvão. “O Brasil tem perfeita consciência de que precisa mostrar progresso na área de desenvolvimento sustentável, e grandes empresas do setor privado já começaram a promover uma mobilização verde no país”, acrescentou. 

As próximas semanas serão imprescindíveis para o debate. Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática de 2021 (COP26), em Glasgow, na Escócia, o Brasil terá a oportunidade de apresentar planos concretos de ação voltados para a agenda ambiental. Nesse meio tempo, pendências técnicas terão que ser revistas pela comunidade europeia. 

“Podemos explicar a situação da seguinte maneira: o avião está circulando em cima do aeroporto, mas o tempo ainda não abriu. Enquanto isso, na cabine, os comandantes estão fazendo mínimos ajustes. Se ajustes fossem feitos rapidamente, o avião pousaria. A percepção da Comissão Europeia é que a hora do pouso ainda não chegou.”