Debate técnico apresentou potencial energético do etanol - CIESP

Debate técnico apresentou potencial energético do etanol

 
Biocombustível coloca Brasil à frente de países desenvolvidos e não inflaciona alimentos, defendem especialistas
 
“Temos uma oportunidade extraordinária nas mãos [com o etanol]. O mundo percebeu isso e está colocando barreiras.” A declaração é do membro do Conselho Superior de Meio Ambiente (Cosema) da Fiesp, Maurílio Biagi, durante a mesa-redonda “Os caminhos do etanol face aos aspectos socioambientais”, que encerrou ontem (2) o primeiro dia de debates da Semana Fiesp-Ciesp de Meio Ambiente 2008. Pontos como esse foram explorados tecnicamente pelos debatedores, que compararam o biocombustível do Brasil a seus concorrentes da Europa e dos EUA, demonstrando que o etanol supera os demais combustíveis em rendimento, diminuição da poluição e geração de energia.
 
Segundo dados apresentados pelo diretor da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Márcio Nappo, o etanol emite 90% menos gases causadores do aquecimento global que o biocombustível europeu a base de trigo (40%) e de milho norte-americano (20%). “O produto brasileiro tem características que o colocam como o mais competitivo em termos de sustentabilidade”, afirmou.
 
No aspecto balanço energético, pesquisas demonstraram que o produto brasileiro é o mais viável para substituir a gasolina. Para cada unidade da fonte fóssil, o biocombustível do Brasil produz 9.3 de energia renovável. Já a proporção de seu concorrente à base de beterraba é de uma unidade fóssil para cada 2.8 renováveis. O trigo é de um para dois e o milho de um para 1.4.
 
Outro fator favorável é o coeficiente de produção da área plantada. Cada hectare de cana-de-açúcar rende sete mil litros. A mesma área em beterraba produz cinco mil litros. O milho quatro mil litros.
 
Some-se ainda à tecnologia brasileira o fato de a cana exigir menos agrotóxicos. “Em relação a outras culturas, ela utiliza baixos índices de agroquímicos pelo fato de ser perene, ou seja, o canavial é renovado a cada cinco ou seis”, explica Nappo.
 
Etanol x crise dos alimentos
Para o diretor titular do Departamento de Meio Ambiente (DMA) da Fiesp, Nelson Pereira dos Reis, a elevação mundial nos preços dos alimentos reflete a maior urbanização do planeta e ao aumento da renda per capita nos países desenvolvidos. Esses fatores, segundo ele, teriam reduzido os estoques e elevado a demanda mundial, pressionando os preços. “Estamos com um nível de estocagem de mais de trinta anos atrás, com destaque para o arroz, o milho e o trigo, o que levou à explosão de preços”, alertou.
 
Pereira dos Reis afirmou também que os subsídios dos EUA à produção de milhos é um dos elementos desestabilizadores do mercado mundial de commodities agrícolas. Ele pontuou que a redução do protecionismo é essencial para equilibrar a demanda e a oferta globais. “A África, por exemplo, poderia ter uma oportunidade de desenvolver uma agricultura sustentável se houvesse menos protecionismo, principalmente na União Européia”, destacou.
 
O cultivo da cana-de-açúcar para produção de etanol, portanto, não seria um fator determinante para a inflação, uma vez que apenas 1% da área cultivada no Brasil se destina ao biocombustível. 
 
Maurílio Biagi, do Cosema da Fiesp, foi enfático ao afirmar que o fato de os países desenvolvidos terem esgotado suas fontes de energia e não possuírem opções renováveis está por trás do argumento que credita ao etanol brasileiro o aumento no preço dos alimentos. “O Brasil tem 300 milhões de hectares para explorar e será o único país onde o consumidor vai poder escolher na bomba o tipo de combustível que vai usar. Nenhum outro tem esse privilégio”, avaliou.
 
Benefícios à saúde pública
Para Luiz Gonzaga Bertelli, diretor do DMA, a diminuição de gases poluentes proporcionada pela substituição de veículos movidos a derivados de petróleo levaria a uma melhora significativa na saúde de moradores de centros urbanos, diminuindo a incidência de doenças respiratórias e cardiovasculares. “Em São Paulo, por exemplo, haveria uma redução de 65% do gás carbônico emitido se a frota fosse operada exclusivamente a álcool. Essa seria a fantástica contribuição dos veículos a biocombutível para a saúde da população”, disse Bertelli, baseando-se em estudo da Cetesb.
 
 
 

 

Agência Ciesp de Notícias
Nivaldo Souza
03/06/2008