"Brasil precisa de projeto de reindustrialização com ênfase na indústria 4.0" - CIESP

“Brasil precisa de projeto de reindustrialização com ênfase na indústria 4.0”

Graciliano Toni, Agência Indusnet Fiesp

José Ricardo Roriz Coelho, vice-presidente da Fiesp e diretor titular de seu Departamento de Competitividade e Tecnologia, fez nesta terça-feira (5 de dezembro) a contextualização para a primeira mesa do 1º Congresso Brasileiro de Indústria 4.0, intitulada O que é a Quarta Revolução Industrial? Características e Impactos.

A participação da indústria no PIB recuou ao nível de 1953, disse Roriz, indo para 11,7% O mesmo retrocesso de 65 anos se deu em relação à produtividade brasileira quando comparada com a dos EUA. E na indústria mundial a participação brasileira caiu a praticamente à metade. Quanto mais sofisticada a indústria, maior a produtividade e a renda de um país, destacou.

Roriz descreveu as características da indústria 4.0 e frisou que para sua implantação não é preciso partir do zero. A maior parte do investimento será em plantas já existentes.

Ressaltando o apoio dado pela Fiesp às reformas estruturais, Roriz lembrou que além delas o Brasil também precisa urgentemente de um projeto de reindustrialização com ênfase em Indústria 4.0. O grande desafio é o financiamento, afirmou. Deficiências na infraestrutura, e problemas na regulação e na segurança jurídica também representam obstáculos. Além disso, são entraves a dificuldade em registrar patentes, na capacitação de mão de obra e a falta de plataformas, como por exemplo de carros elétricos.

Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES, destacou o compromisso do banco com o papel da inovação. “Ele mesmo tem procurado ser fator de inovação”, disse, buscando compensar problemas de ordem financeira, tributária e burocrática que caracterizam a economia brasileira. Hoje, segundo Castro, 4% do total da carteira do banco vai para áreas como fundos Criatec. Há recursos no Brasil para o desenvolvimento, afirmou, admitindo que o BNDES pode ser muito tímido para divulgar sua atuação nesse campo.

Dos cerca de R$ 70 bilhões desembolsados pelo BNDES atualmente por ano, R$ 22 bilhões vão para inovação, valor que até 2020 idealmente deveria atingir R$ 50 bilhões, defendeu.

Citando o sucesso do agronegócio graças ao investimento em tecnologia, disse que o compromisso do BNDES é reverter a participação cadente da indústria nos financiamentos. “É a principal preocupação que nós temos.” O banco também quer a instalação de infraestruturas para apoiar a Indústria 4.0.

Reproduzir o sucesso do empreendedorismo do setor rural em volta do reconhecimento de fazer o que se dizia que não seria possível. O mesmo se deu em óleo e gás. Há exemplos positivos no Brasil, frisou.

Outra dificuldade brasileira, “que precisamos vencer”, é trazer parceiros internacionais, buscar a colaboração estrangeira. “Acredito que em 10 anos, se tivermos um plano realmente adequado, poderemos olhar para trás, para o final dos anos 20, e dizer: O Brasil conseguiu’.” Para isso, “o Brasil precisa fazer a descomplicação tributária”, defendeu. “Somos um inferno tributário e burocrático.”

Rafael Oliveira, sócio da McKinsey, disse que ou o Brasil ganha produtividade ou vai crescer em ritmo de tartaruga. A digitalização vai ser a alavanca para isso, afirmou, e vão surgir oportunidades. “O céu é o limite para a Indústria 4.0”, disse. Um ponto a considerar é o gerenciamento do sigilo, da cibersegurança. A Indústria 4.0 é viabilizada por tecnologias disruptivas que mudarão o setor de manufatura entre hoje e 2025.

A manufatura em si é a área que mais gera dados no mundo, duas vezes mais que os governos, segunda área em volume, disse Oliveira. Só que usa menos de 1% desses dados para a tomada de decisões e mudança de processos.

O otimismo tem aumentado no mundo de forma significativa em relação à Indústria 4.0, porque cada vez mais há casos de sucesso.

A otimização de fábricas e indústrias pode levar a 15% a 30% de melhora na produtividade da mão de obra. E de 50% a 80% dos processos administrativas serão otimizados.

A gestão de performance digital e a maior conectividade de máquinas levarão a uma nova era de excelência em performance, disse. A manutenção passará a ser preventiva.

Quanto às dificuldades, a já mencionada segurança de dados e a capacitação de pessoas para implantar e gerenciar os novos processos. No Brasil merece atenção especial o cálculo do retorno sobre investimento.

A McKinsey identifica cinco pontos críticos para haver o máximo valor na digitalização.

  • Definir uma estratégia que foque no valor para a empresa e para os clientes;
  • Concentrar esforços num número limitado de aplicativos de alto valor;
  • Usar soluções alternativas de infraestrutura de curto e longo prazo;
  • Utilizar todo o ecossistema digital;
  • Capacitar a organização e adaptar ativamente processos e cultura.

Carlos Tunes, da plataforma Watson IoT da IBM, frisou que a Indústria 4.0 começa a se estabelecer para atender à mudança imposta pela própria sociedade, de produtos cada vez mais personalizados e especializados.

Cada vez mais as novas tecnologias estão acessíveis às pessoas físicas e empresas, e cada vez mais na forma de serviços, nuvem e aplicativos.

As diversas iniciativas de Indústria 4.0 visam ao aumento de produtividade, de eficiência, de receita, de valor para o usuário, de competitividade, agilidade e flexibilidade.

O grande ponto que veremos agora é a manufatura avançada gerando dados não só de forma digital, mas cognitiva.

Cada vez mais haverá equipamentos inteligentes, operações e processos cognitivos, recursos mais inteligentes e otimizados. É muito importante, disse, saber como interpretar os dados e gerar ações a partir disso.

Deu como exemplo de uso da capacidade analítica do Watson IoT a indústria automotiva, permitindo prever falhas, fazer manutenção preventiva, aumentando a eficiência operacional e a lucratividade. Também ajuda a aumentar a segurança de funcionários em ambientes perigosos.

O aumento da eficiência operacional, o engajamento cada vez maior dos clientes e a ruptura do setor são os resultados da transformação dos negócios resultante dessas novas tecnologias. “Dado é o maior recurso natural existente hoje”, disse ao encerrar sua apresentação.

José Borges Frias, diretor de Estratégia e Business Excellence da Siemens, disse que “estamos vivendo uma vida de cachorro”, com cada ano trazendo o mesmo volume de transformação esperado para sete anos.

Só precisamos, afirmou, fazer o planejamento adequado para usar os recursos, que já estão disponíveis. Falta no Brasil pensar no longo prazo para permitir a reindustrialização.

Existe correção muito intrínseca e próxima entre industrialização e inovação, afirmou.

O que vai direcionar que tipo de tecnologia vai ser implantada, explicou, é seu preço. Um ponto a merecer atenção é não deixar a tributação inviabilizar o uso no Brasil, alertou Frias.

Compartilhamento e experiência do usuário serão cada vez mais importantes.

O medo de canibalizar o negócio tradicional com o novo negócio é um paradigma a ser quebrado, disse. As empresas também precisam aprender a lidar com as novas gerações no trabalho.

Frias deu diversos exemplos de como as novas tecnologias vão mudar o mundo, dos serviços à manutenção preventiva e à personalização.

“Só faz sentido a digitalização quando se olha toda a cadeia de valor da empresa.” Também alertou que a transformação digital é altamente dependente dos dados. Eles têm que ser compartilhados dentro da organização, defendeu.

Ana Cristina da Rocha, do BNDES, disse que o termo manufatura avançada define melhor a transformação atual que Indústria 4.0. Lembrou que além da digitalização há pontos como novos materiais e nanotecnologia. Há uma convergência de tecnologias, destacou.

Experiência internacional

A segunda mesa do seminário foi Iniciativas de Indústria 4.0 pelo Mundo. Seu objetivo foi mostrar o que tem sido feito em termos de políticas e iniciativas empresariais em outros países. Teve como moderador Luiz Augusto de Souza Ferreira, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Ele ressaltou a tentativa de intercâmbio brasileiro com outros países.

Karin Mayer Rubinstein, presidente e CEO da IATI (Israel Advanced Technology Industries – Organização de Indústrias Tecnológicas Avançadas de Israel), empresa privada sem fins lucrativos que funciona como guarda-chuva para 700 empresas, mostrou o panorama em Israel, país que tem cerca de 5.000 startups. São criadas 500 startups por ano, e 500 fecham.

Ela credita o sucesso da indústria israelense de alta tecnologia a fatores como a cultura empreendedora, a alta qualidade dos recursos humanos, a disponibilidade de capital, o apoio do governo, a moderna infraestrutura. A Israel Innovation Authority, governamental, compartilha os riscos de desenvolvimento de tecnologia com a iniciativa privada. “Sabemos trabalhar juntos, integrar.” Disse que o maior desafio para Israel é o déficit de engenheiros. Faltam 10.000, afirmou.

Byoung-Gyu Yu, presidente do Instituto Sul-Coreano para Economia Industrial e Comércio, iniciou sua apresentação descrevendo a evolução até a Indústria 4.0 e mostrando exemplos de como ela já muda nossa vida. Destacou que há muitas oportunidades para pequenas e médias empresas na nova era. Na Coreia do Sul há apoio ao crescimento das empresas.

Rainer Stark, diretor da Divisão de Criação de Produtos Virtuais do Instituto alemão Fraunhofer IPK, disse que o grande mercado doméstico do Brasil deve ser considerado na estratégia do país. Recomenda a adaptação de tecnologias maduras para no curto prazo adotar soluções. Também destacou a importância dos dados. Lembrou que há casos de cooperação entre o Fraunhofer e a indústria brasileira, com o ITA, com a Embraer e com o Senai.

Também participaram Lynne McGregor, especialista em Manufatura de Alto Valor Agregado na Innovate UK, Suresh Kannan, membro do Industrial Internet Consortium (IIC) e presidente da Digiblitz, Yutaka Manchu, secretário-geral adjunto do Conselho de Revolução Robótica do Japão e especialista em Internet das Coisas Industrial e Rafael Moreira, assessor especial do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.