As empresas precisam assumir o protagonismo da agenda ambiental, afirma Izabella Teixeira
- Atualizado emAlex de Souza, Agência Indusnet Fiesp
Em sua primeira fala na Fiesp, em reunião do Conselho Superior de Infraestrutura da Fiesp (Coinfra), realizada na quarta-feira (10/2) e dirigida pelo seu presidente, Marcos Lutz, a ex-ministra de Meio Ambiente, Izabella Teixeira, enfatizou que a primeira questão a ser entendida é que não existe crescimento econômico sem infraestrutura. “Essa é uma antiga preocupação estratégica do setor privado brasileiro. Contudo, faltam projetos e recursos adequados. Como os recursos no Brasil são pequenos, diante da magnitude do que a infraestrutura requer, esse dinheiro precisa vir de fora. E esse dinheiro normalmente está condicionado à observância de regras ambientais e de sustentabilidade”, contextualizou a ex-ministra.
Há a necessidade de o setor produtivo ter clareza quanto à agenda climática e entender que a fase de negociação já foi superada pela de implementação: “Estamos em um mundo onde as novas gerações consideram esse assunto como prioritário. Os formadores de opinião cada vez mais usam a questão climática como questão de expressão política, que não é necessariamente ambiental, mas de desenvolvimento”, explicou.
Entre as ações de execução, segundo Teixeira, que é copresidente do International Resource Panel da ONU, está o da redução das emissões. “A China entrou no jogo e reviu seu compromisso, antecipando para 2025 seu pico de emissões, além de se comprometer para o longo prazo até 2060”, disse, e lembrou que os financiadores internacionais estão envolvidos nos processos, porque “a neutralização de carbono tem convergência de interesses políticos e sociais”.
O setor privado de outros países se movimenta não mais como curiosos pelo tema, mas como proponentes, promovendo novos caminhos e soluções, com agenda climática e de desenvolvimento global: “O setor privado de infraestrutura brasileiro deveria ter uma ação proativa e não reativa”, sugeriu a ex-ministra.
Teixeira destacou o fato de que o Brasil já havia equacionado as divergências, mas hoje está fora da agenda. Em sua crítica, acrescentou que “é expressivo que o Brasil tenha ficado fora da cúpula da convenção climática. Significa que os espaços políticos estão reduzidos e o Brasil tem mais dificuldade de argumentar em torno de seus interesses”.
Ela defende que o setor privado promova a interlocução, para que o mundo entenda o que é o País. “Os fóruns estão acontecendo internacionalmente sem a presença do Brasil. É importante que tenhamos capacidade de diálogo. O setor privado tem grande credibilidade e deveria ter papel mais estruturante dessa interlocução, até mesmo para defender seus interesses”, pontuou.
Teixeira também destacou a questão ambiental no âmbito do novo governo dos EUA, que deverão discutir mais o tema e buscarão a interlocução junto a outros países. “O Brasil precisa aproveitar as oportunidades que surgirem, mas para isso é necessário ir além dos governos. As empresas não podem ficar de braços cruzados, devem ter protagonismo, o que não significa ir para reuniões, mas ter agenda clara. O Brasil é super importante dentro desse papel internacional”, explicou.
Em relação aos créditos de carbono e o desmatamento na Amazônia, a ex-ministra insistiu que somente por meio do diálogo será possível encontrar um caminho promissor. “O Brasil precisa definir o que ele quer. E tem condições para isso. Mas precisa ter uma atitude propositiva: negociar o valor dos créditos de carbono, discutir a viabilidade de projetos, olhar para os impactos ambientais e sociais, não menosprezar as populações indígenas e conversar com todos os envolvidos”, concluiu.